Economia americana está melhor. Mas pode crescer tanto quanto em 2011, e os trabalhadores sofrem
Agora vai. É o que se diz da economia americana neste momento de alta do ciclo maníaco e trimestral de opiniões sobre o fim (ou recomeço) "certo" da crise naquele país.
Não dá para negar que os Estados Unidos despioram. As notícias ficam ainda melhores quando se lembra que, lá por setembro de 2011, o opinionismo econômico ciclotímico estava na onda de baixa e se disseminava o medo de recessão.
Convém ainda recordar de outras variações de humor de economistas e dos povos dos mercados.
Alguém ainda lembra da temporada dos "green shots" (brotos, a primavera econômica), de abril de 2009? Quando Barack Obama dizia que "cintila a esperança" e o pessoal da finança dizia que a recessão acabava? E do otimismo bobo do primeiro trimestre do ano passado?
Por fim, nem os melhores economistas americanos se entendem sobre o que está acontecendo na economia do país deles, no curto ou no longo prazo. Não apenas discordam por vezes diametralmente, mas insultam abertamente o diagnóstico e o prognóstico dos colegas.
Se eles, que são brancos de olhos azuis (como dizia Lula), não se entendem, é muito arriscado nós daqui dizermos qualquer coisa. No máximo, pode-se contribuir para a confusão e para o ceticismo menos desinformado sobre o assunto.
Considere-se, por exemplo, a situação do trabalho.
Causou alguma sensação o balanço do desemprego de dezembro. Sim, o desemprego está menor e caindo continuamente. Mas a taxa de desemprego, sozinha, é uma estatística que não faz um verão, nem uma primavera econômica.
Para começar pelo desemprego mesmo, lembre-se de que, em dezembro de 2006 (e ainda em maio de 2007), a taxa era de 4,4% (chegou a 10% em 2009 e está em 8,5%). Os dados são dessazonalizados.
O salário semanal médio real do conjunto dos empregados caiu 1,2% de novembro de 2010 para novembro de 2011 (é o número mais recente disponível; as informações sobre dezembro, que foi melhorzinho, saem no próximo dia 19). Excluídos os salários do pessoal com cargos de gerência, a queda foi de 1,8%.
A parcela de empregados em relação ao total da população ficou em 58,5%. Era quase igual, de 58,3%, um ano antes. Na verdade, estagnou desde outubro de 2009. No pico anterior à crise, em dezembro de 2006, era de 63,4%.
O desemprego de longa duração ainda é uma doença ruim. O tempo médio de desemprego baixou apenas para 42,5 semanas, ante 44,3 em dezembro de 2010. No final de 2008, ano de explosão da crise, mas antes das demissões em massa, essa média era de 23 semanas.
Sim, a confiança do consumidor sobe; faz-se mais crediário. A indústria cresce um pouquinho. Mas o setor de serviços está rateando. O setor imobiliário continua em depressão (nos preços; o desemprego diminuiu na construção).
O ano será de recessão ou, no melhor dos casos, de estagnação na Europa do euro. A China deve crescer menos. Haverá cortes de gasto público e (talvez) aumento de impostos nos EUA, afora outras loucuras que os republicanos podem aprontar para derrubar Obama.
Para o bem deles e também o nosso, é melhor que os EUA acelerem. Mas os dados de agora e os riscos adiante não permitem cravar nada.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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