Fernando Bezerra e o Planalto traçam estratégia de defesa contra as denúncias de favorecimento. Plano inclui o depoimento relâmpago ao Congresso e o anúncio de medidas de combate às tragédias provocadas pelo clima
Juliana Braga, Paulo de Tarso Lyra
Acuado há uma semana com denúncias de privilégios para sua base eleitoral em Petrolina, Pernambuco, e para seus familiares espalhados na máquina pública federal, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, decidiu antecipar sua ida ao Congresso Nacional em pleno recesso para prestar esclarecimentos. A decisão faz parte de uma estratégia de defesa acordada com o Palácio do Planalto, que incluiu a edição de um pacote de medidas contra as tragédias provocadas pelas chuvas. Ontem, pelo menos 12 pessoas morreram, agravando a situação provocada pelo clima no Sudeste
Seguindo o script do Planalto, Bezerra telefonou ontem mesmo para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e solicitou que fosse convocado para se apresentar na Comissão Representativa do Congresso amanhã, seguindo a estratégia de explicar-se para um Legislativo esvaziado pelo recesso de janeiro — apenas 17 deputados e sete senadores.
Nos bastidores, tanto ele quanto o PSB apostam no esvaziamento da crise política até o início do ano legislativo, em fevereiro. Sob holofotes, no entanto, ele disse acreditar que o depoimento em pleno recesso não facilita sua defesa. "Eu creio até que é mais difícil a blindagem nessas circunstâncias", defendeu. Ele adiantou, após reunião com a presidente Dilma Rousseff e outros ministros para tratar das enchentes no país, que pretende "tirar qualquer dúvida em relação à gestão dos recursos da Defesa Civil".
Como o Correio mostrou na última semana, Bezerra usou o cargo para beneficiar familiares em Pernambuco. Ele e o irmão Clementino de Souza Coelho, presidente interino da Codevasf, intermediaram a licitação para a compra de cisternas de plástico da empresa Acqualimp, a serem distribuídas no sertão brasileiro. O custo de instalação do produto é duas vezes e meia maior do que o das cisternas de concreto.
Além disso, a Acqualimp acertou a instalação de uma fábrica em Petrolina, município no qual o filho do ministro, Fernando Coelho Filho, será candidato a prefeito em outubro. No mesmo dia em que a matéria foi publicada, a Casa Civil divulgou nota confirmando o nome de Guilherme Gonçalves Almeida como novo presidente da Codevasf, em substituição a Clementino.
Bezerra passou o fim de semana em Pernambuco e conversou diversas vezes, por telefone, com o governador do estado, Eduardo Campos. Desde o início da crise, tem cabido a Eduardo — que também é presidente do PSB — dar o tom das declarações do ministro. Foi o governador quem primeiro avisou que as obras das barragens na Bacia do Una foram feitas "com o conhecimento pleno da presidente Dilma". Na quarta-feira, em entrevista coletiva no ministério, Bezerra repetiu a estratégia de defesa. Outra ação combinada é tentar desqualificar as denúncias relacionando as acusações à disputa eleitoral pelas prefeituras.
Força-tarefa
No Planalto, a estratégia até o momento é mostrar que o titular da Integração Nacional não está ameaçado de demissão. Como parte dessa estratégia de fortalecimento, ele foi escalado para anunciar o pacote de medidas elaborado pelo governo para o enfrentamento das chuvas. Após duas horas e meia de reunião com a presidente Dilma Rousseff e com os ministros dos Transportes, Paulo Passos; da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; da Saúde, Alexandre Padilha; da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante; e o interino da Defesa, Enzo Peri, coube a Bezerra anunciar as principais medidas decididas pelo governo federal.
Confiante, o titular da Integração Nacional garantiu que conta com o "apoio e confiança" da presidente Dilma Rousseff para continuar no cargo. "Se eu não contasse com a confiança e o apoio da presidenta Dilma, não estaria nessta solenidade", completou. Ele afirmou que teve uma "uma longa e boa conversa" com a presidente e que ela já havia recebido todas as informações sobre as denúncias. "O Ministério do Planejamento já se manifestou em relação aos recursos da Defesa Civil, a CGU já se manifestou em relação à situação da direção da Codevasf. Portanto, todos os pontos levantados já foram devidamente respondidos", sustentou.
Bezerra está confiante de que as denúncias não vão ter maiores consequências. "Nós estamos tranquilos, nenhuma dessas denúncias irá prosperar, porque nunca prosperou nenhuma denúncia contra minha pessoa. E eu nunca tive nenhuma conta rejeitada em toda minha vida pública", enfatizou.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
Nenhum comentário:
Postar um comentário