terça-feira, 20 de março de 2012

França e Paulinho da Força discutem terceira via em SP

Cristian Klein

SÃO PAULO - Dividido entre o PT, o qual apoia no governo federal, e o PSDB, com quem está aliado na administração Geraldo Alckmin, o PSB procura uma saída alternativa para não desagradar a tucanos e petistas na eleição municipal em São Paulo. O presidente regional do partido, o secretário estadual de Turismo Márcio França, encontrou-se ontem à noite com o deputado federal e pré-candidato do PDT à prefeitura, Paulinho da Força, para a construção de uma aliança entre as duas legendas que represente uma terceira via.

Com isso, França busca evitar um rompimento da relação com Alckmin, que apoia a candidatura do ex-governador José Serra. O secretário defende a coligação com os tucanos, mas o presidente nacional do partido, o governador de Pernambuco Eduardo Campos, prefere que seus correligionários em São Paulo apoiem o candidato do PT, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad.

"O que eu queria saber hoje do Paulinho é se ele tinha convicção da candidatura em qualquer circunstância e ele disse que vai [disputar]. É um patamar importante da decisão porque sei que ele tem o respaldo do partido. Torna-se uma opção com boas chances de ter uma simpatia nossa por conta da relação que a gente tem e porque também acaba você não tendo que se envolver nessa polarização nacional", disse França, durante o jantar em restaurante no centro da cidade.

Na mesma mesa, Paulinho da Força mostrava a disposição de levar adiante o projeto. "Não estou nem atendendo mais telefonema", afirmou o pré-candidato, que contou ter sido procurado recentemente pelo ex-deputado e ex-presidente do PT, José Dirceu, para apoiar a candidatura de Haddad.

Em tom crítico, Paulinho lembrou que Haddad nunca o recebeu quando era ministro e, portanto, teria dificuldade de se aliar com quem ainda não lhe apertou a mão. Márcio França disse que a negociação será encaminhada a Eduardo Campos e discutida pelo diretório municipal. Entre os possíveis nomes para vice de Paulinho da Força estão o do ex-jogador Marcelinho Carioca e da deputada federal Keiko Ota.

O encontro de ontem foi sugerido por Márcio França, há dez dias, durante a cerimônia de posse do secretário estadual de Trabalho, Carlos Ortiz, que marcou a entrada do PDT no governo Alckmin.

Desde então, os presidentes municipais das duas legendas, os vereadores Claudio Prado (PDT) e Eliseu Gabriel (PSB), mantêm contato e reuniram-se para discutir a viabilidade da montagem de uma chapa única na disputa proporcional.

"A chapa do PDT já está completa; a nossa ainda não. Mas não há incompatibilidade", afirma Márcio França.

Com este movimento, o secretário estadual tenta salvar ao mesmo tempo sua própria pele - pois uma adesão ao PT poderia significar a perda de seu cargo no governo Alckmin - e as costuras já iniciadas entre PSB e PSDB em municípios do interior paulista.

É o caso de Campinas, onde o deputado federal tucano Carlos Sampaio já acertou retirar sua candidatura a prefeito em favor do também deputado Jonas Donizete (PSB).

O rompimento dessa aliança em Campinas beneficiaria o PDT, que deve lançar o prefeito Pedro Serafim. Mas Paulinho do Força reafirma a importância da sua candidatura na capital e diz que ela é inegociável. "Ou imexível, como dizia [o ex-ministro do Trabalho no governo Collor, Antônio Rogério] Magri", diz.

O deputado tem assumido posições cada vez mais críticas em relação ao PT, depois da demissão do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, do Ministério do Trabalho, em dezembro. Ao negar apoio a Fernando Haddad, em São Paulo, Paulinho afirma que seu partido dá o mesmo tratamento que tem recebido dos petistas em Brasília.

Com essa postura, o deputado reforça a estratégia dos tucanos, que veem no lançamento de candidaturas de terceira via uma possibilidade de roubar votos de Haddad. Até agora, o ex-ministro está isolado e não conseguiu fechar nenhuma aliança com as siglas que apoiam o governo federal do PT, como PCdoB e PR e os próprios PSB e PDT.

Além do PDT, ainda estão de pé, entre os aliados que têm ministérios no governo federal, as candidaturas de Gabriel Chalita (PMDB), Celso Russomanno (PRB) e Netinho de Paula (PCdoB).

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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