João Augusto de Castro Neves
O governo Dilma sofreu duas importantes derrotas no Congresso nas últimas semanas: a rejeição da recondução do diretor da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), Bernardo Figueiredo, e a defecção dos senadores do PR da coalizão governista. Na esteira desses acontecimentos, o governo decidiu trocar seus líderes no Senado e na Câmara, uma estratégia pouco usual a poucos meses do recesso parlamentar de meio de ano.
Apesar de sublinharem uma certa dificuldade do governo Dilma em lidar com as prerrogativas de um presidencialismo de coalizão, seria prematuro traduzir esses acontecimentos como o prenúncio de uma crise política mais profunda.
Em termos numéricos, a saída do PR pouco altera o balanço de poder entre governo e oposição no Senado. Aliás, o mais provável é que os sete senadores do PR atuem de forma independente em vez de se aliarem à oposição.
Já em relação à ANTT, deve-se notar que o PMDB, considerado o principal culpado pela derrota governista, conscientemente escolheu uma votação relativamente menos importante para manifestar sua "rebelião". Nos dois casos, os canais de diálogo com o governo continuam abertos.
A curto prazo, as tensões na base governista podem retardar o ritmo de trabalho no Congresso. Ainda assim, não há razão para acreditar que as principais propostas de reforma estejam ameaçadas.
A criação de um fundo de previdência para o setor público, a padronização do ICMS sobre produtos importados e a decisão de ampliar para outros setores industriais a desoneração da folha de pagamentos, por exemplo, são questões que transcendem a divisão governo-oposição. Se o governo decidir avançar com essas reformas, o principal obstáculo sera um calendário apertado pelas eleições municipais.
Para evitar a deflagração de uma crise política mais à frente, entretanto, o governo devera ir além da troca de lideranças no Congresso.
Com a opinião pública e os indicadores econômicos ainda a seu favor, a presidente Dilma vem se protegendo de maiores turbulências. Mas para não virar refém de sua popularidade, cedo ou tarde a presidente precisará jogar o jogo do presidencialismo de coalizão, isto é, compartilhar mais poder -e verbas.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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