Homenagem ocorreu na primeira aparição de Lula após o encontro em que teria pressionado o ministro do STF Gilmar Mendes por causa do mensalão. "Muita gente gosta de mim, mas tem algumas (pessoas) que não gostam. Tenho de tomar cuidado com essas", disse Lula.
Dilma faz desagravo a Lula
Presidente exalta a herança do antecessor, desgastado após o episódio em que teria pressionado o ministro do Supremo Gilmar Mendes a adiar o julgamento do mensalão
Juliana Braga e João Valadares
BRASÍLIA – Em meio à crise com o Judiciário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu uma homenagem da presidente Dilma Rousseff ontem, no Palácio do Planalto. Durante o evento de premiação de propostas para alcançar os Objetivos do Milênio, Dilma elogiou as iniciativas sociais do antecessor e exaltou seu comprometimento internacional com a erradicação da pobreza. A declaração soou como desagravo à pressão sobre Lula.
"Processos e pessoas têm uma ligação íntima. As pessoas nos lugares certos e na hora certa mudam os processos e transformam a realidade. E por isso eu queria, de fato, aqui, fazer uma homenagem especial ao presidente Lula", disse Dilma. "E o seu comprometimento internacional com a luta pela erradicação da pobreza nas regiões pobres do nosso planeta, que ele conhecia bem, porque são muito parecidas com o Brasil, e pelo nosso posicionamento levado pelo presidente Lula no que se refere à África, à América Latina e ao Caribe", completou. Dilma encerrou o discurso dizendo que todos os presentes teriam "esse reconhecimento a prestar". A plateia aplaudiu de pé, enquanto cantava o nome do ex-presidente. Após a cerimônia, Dilma almoçou com Lula no Palácio da Alvorada.
Os elogios vêm em um momento em que Lula está no centro de uma troca de acusações com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. No fim de semana, a revista Veja publicou reportagem na qual Mendes afirma que Lula tentou pressioná-lo para adiar a votação do mensalão. "É inconveniente julgar esse processo agora", teria dito o ex-presidente. Segundo Mendes, Lula tentou intimidá-lo ao citar uma viagem feita supostamente em um avião cedido pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira ao voltar da Alemanha em abril do ano passado. Lula insinuou que poderia blindar ou prejudicar o ministro na CPI do Cachoeira.
Na segunda feira, por meio de nota, o ex-presidente reconheceu que o encontro ocorreu, mas negou as acusações. Disse que jamais interferiu ou tentou interferir nas decisões do STF ou da Procuradoria-Geral da República. "Meu sentimento é de indignação", disse Lula. O ministro Nelson Jobim, que teria participado do encontro, negou o teor da conversa.
Em coletiva na terça-feira, Gilmar Mendes voltou a afirmar as acusações e disse que Lula seria a "central de divulgação" de informações falsas sobre ele. Disse também que existe uma nítida intenção de "melar" o julgamento do mensalão ao tentar envolver o Judiciário em uma rede de corrupção.
Indireta O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva evitou falar diretamente, ontem, durante palestra na Fiocruz, no câmpus da Universidade de Brasília (UnB), sobre as declarações de Gilmar Mendes. Em um discurso de pouco mais de uma hora sobre os avanços de seu governo, Lula proferiu apenas uma frase que pode ser interpretada como uma indireta ao ministro: "Vocês sabem que tem muita gente que gosta de mim, mas tem algumas (pessoas) que não gostam. Eu tenho que tomar cuidado com essas. São minoria, mas estão aí no pedaço".
Antes de iniciar o discurso para autoridades da América Latina, do Caribe e da África, o ex-presidente disse que só falaria por 15 minutos por recomendação médica — ele combateu um câncer na laringe entre o fim de outubro e março. No entanto, mostrou vigor e saúde. Falou 50 minutos a mais que a previsão. "Vou falar de pé, porque senão podem dizer que estou doente. Para evitar esses pequenos dissabores..."
Lula chegou a Brasília na noite de terça-feira. Foi direto ao hotel Blue Tree Towers. Ontem pela manhã, recebeu apenas a visita do ex-chefe da Secretaria-Geral da Presidência Luiz Dulci. Às 13h20, o ex-presidente chegou ao Palácio da Alvorada para almoçar com a presidente Dilma Rousseff. Entrou por um portão lateral para fugir do assédio da imprensa. Pouco mais de duas horas depois, Lula deixou o local e retornou ao hotel. Na chegada à Fiocruz, por volta das 18h, o ex-presidente também não falou com jornalistas, apesar da insistência. Os repórteres não puderam entrar no auditório e acompanharam a palestra por meio de uma televisão instalada na sala ao lado.
Ao vivo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá a oportunidade de se explicar hoje sobre o duelo de versões travado com o ministro Gilmar Mendes, em entrevista ao vivo no Programa do Ratinho, na TV Alterosa, a partir das 21 h. Será a primeira entrevista de Lula à TV brasileira após deixar a Presidência da República, em 1º de janeiro de 2011, e depois do fim do tratamento contra um câncer na laringe, em março.
FONTE: ESTADO DE MINAS
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