O problema dos bancos da Espanha exige soluções até agora não admitidas, que podem mudar o rumo e a qualidade das intervenções.
Enquanto a busca de uma saída para a Grécia fica adiada para depois das eleições de 17 de junho, a Espanha afunda na areia movediça. Esta quarta-feira foi mais um dia de agonia, de perda de depósitos nos bancos e de queda do valor dos títulos soberanos.
O presidente do governo, Mariano Rajoy, parece vacilar. É que todas as soluções que poderia propor esbarram em fortes obstáculos.
A encrenca original da Espanha não tem a ver com o excesso de despesas públicas – casos de Grécia e Portugal. Tem a ver, sim, com a enorme fragilidade dos bancos, que se atiraram ao financiamento imobiliário no início da primeira década deste século – para aproveitar a abundância de recursos que veio com a derrubada dos juros logo após a emissão do euro. O boom hipotecário gerou procura artificial de mão de obra e elevou o consumo. Com a eclosão da crise, a bolha imobiliária explodiu e os preços dos imóveis caíram abaixo do valor das hipotecas (saldo do financiamento). A economia entrou em recessão, veio o desemprego (24% da força de trabalho, hoje), a arrecadação caiu e, como o Tesouro teve de bancar o seguro-desemprego, as despesas saltaram. E isso levou a dívida para níveis perigosos.
A Espanha está na mesma situação da Irlanda há três anos. Tem de salvar os bancos, atolados em encrencas mais sérias do que simples colapsos de caixa. Assumiram riscos de crédito maiores do que poderiam suportar. Seus problemas são de insuficiência patrimonial. Têm de ser urgentemente capitalizados. A conta, avaliada entre 60 bilhões e 70 bilhões de euros, pode ser muito mais alta.
Não se fala mais em deixar algum banco quebrar. Seria o início de uma catástrofe perfeita. O tombo da primeira peça do dominó derrubaria as demais.
Também não há mais a hipótese de obrigar os atuais acionistas a subscrever capital novo. Alguns bancos precisam de mais capital do que seu atual valor de mercado (caso do Bankia).
Não se pode obrigar o já sangrado Tesouro da Espanha a fazer maciças transfusões de capital. Esticaria a corda do déficit público para além do suportável. Rajoy sugeriu que a recapitalização dos bancos fosse feita por meio de emissão de títulos públicos, proposta que teria duas consequências. Primeira, puxaria o endividamento para níveis perigosos. Segunda, como os bancos não precisam de mais títulos (de mais ativos), mas de mais dinheiro vivo, o despejo desses bônus no mercado implicaria sua desvalorização e novo esticamento dos juros. Se o Banco Central Europeu (BCE) recomprasse esses títulos, estaria financiando despesas do Tesouro da Espanha – algo inadmissível. Esse precedente obrigaria o BCE a recomprar títulos públicos a cada operação de resgate de banco.
Outra opção que parece contar com o apoio da Comissão Europeia seria levar um fundo europeu a subscrever a elevação de capital dos bancos, o que esbarra no veto da Alemanha. Mas pode ser a saída inevitável, com efeitos importantes. Grandes bancos espanhóis seriam controlados pelo bloco. Seriam bancos públicos, mas com controle partilhado pelos sócios do euro e, obviamente, com supervisão também da área do euro. Mas não seria este um novo passo decisivo rumo à integração, desta vez financeira?
CONFIRA
Com o corte de ontem, a escada dos juros básicos (Selic) ficou assim.
Os juros mais baixos. A decisão do Copom anunciada no início da noite desta quarta-feira de baixar os juros básicos (Selic), de 9,00% para 8,50%, não trouxe surpresas. Este é o nível mais baixo atingido na história do Banco Central. O comunicado não deu nenhuma indicação de qual será o próximo passo. É o que se espera que seja apresentado na ata do Copom, a ser divulgada na próxima sexta-feira. A decisão unânime dos sete diretores do Banco Central inaugurou o novo regime de abertura de cada voto, já em vigor.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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