quinta-feira, 31 de maio de 2012

CPI dá passo à frente e convoca governadores do PSDB e do PT

Convocação de Cabral é rejeitada; comissão quebra sigilo de Demóstenes

A CPI que investiga a relação do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários convocou para depor os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Perillo terá de explicar a venda de uma casa pela qual teria recebido cheques de pessoas ligadas a Cachoeira, e Agnelo será chamado a falar sobre conversas em que ex-servidores do governo discutem contratos públicos com integrantes da quadrilha. Foi rejeitada a convocação do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). A convocação de Agnelo surpreendeu o PT. A CPI quebrou o sigilo bancário, fiscal e telefônico do senador Demóstenes Torres (sem partido - GO) e de mais 18 empresas ligadas ao grupo de Cachoeira.

CPI convoca Perillo e Agnelo

Cabral não precisará depor; base aliada deu sete votos pela presença de governador do DF

Roberto Maltchik

BRASÍLIA - A CPI que investiga a relação de Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários decidiu convocar os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), mas barrou a inquirição de Sérgio Cabral (PMDB), do Rio. A convocação de Agnelo surpreendeu o PT e pôs em rota de colisão parlamentares da base do governo Dilma Rousseff. Os aliados do Planalto se uniram apenas na hora de assegurar que Perillo também fosse chamado, e para proteger Cabral, que se livrou da CPI até mesmo com votos de parlamentares tucanos. Na mesma sessão, os parlamentares quebraram o sigilo bancário, fiscal e telefônico do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).

O Palácio do Planalto, respaldado pelo relator e pelo presidente da CPI, perdeu uma batalha de quase três horas para impedir a convocação de Agnelo. A convocação do petista foi a que melhor expôs o racha na base aliada. PT e PMDB votaram unidos, porém governistas como o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o deputado Hugo Leal (PSC-RJ) aderiram à tese da convocação de Agnelo, citado em interceptações telefônicas feitas pela Policia Federal (PF) nas quais ex-servidores do governo do GDF discutem contratos públicos com integrantes da organização de Cachoeira. Agnelo foi convocado por 16 votos a 12, com sete votos de parlamentares da base.

- Essa é a linha de atuação do PSC. Nossa linha é fazer uma investigação completa. Todos são ex-parlamentares e a convocação é a melhor oportunidade deles para se defender - justificou Hugo Leal.

Cabral teve apoio de tucanos

Marconi Perillo, que um dia antes compareceu à CPI para dizer que gostaria de prestar depoimento, foi o único convocado com votação unânime. O governador de Goiás é citado nas Operações Vegas e Monte Carlo, e investigações da PF apontaram que Cachoeira influenciava a nomeação de pessoas para cargos públicos no estado. A venda de uma casa de Perillo, paga com cheques de pessoas que seriam ligadas a Cachoeira, também está na mira da CPI. O PSDB conseguiu impedir a aprovação de requerimento, apresentado pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), para que o sigilo telefônico de Perillo fosse quebrado. O relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), votou contra a convocação de Agnelo e Cabral, mas favoravelmente à convocação de Perillo, mesmo com o entendimento de que "há indícios mais contundentes no que diz respeito aos dois governadores (Perillo e Agnello)".

- Quero repetir aqui: a investigação da Polícia Federal e o depoimento do delegado Matheus Mella (responsável pela operação Monte Carlo) sustentam que, nas ligações interceptadas, há 237 referências ao governado Marconi Perillo. São 237! Temos que ter clareza do que nós estamos investigando, das pessoas que efetivamente têm envolvimento com essa organização criminosa - afirmou Cunha durante a sessão.

Com relativa margem de folga, por 17 votos a 11, PT, PMDB e até parlamentares do PSDB resolveram impedir a convocação de Sérgio Cabral, amigo do ex-presidente da Delta Fernando Cavendish. Cabral já havia recebido garantias do PT de que a legenda não apoiaria sua convocação. No plenário, parlamentares de diferentes partidos disseram que não haveria motivos que justificassem a convocação do governador do Rio, como os tucanos Carlos Sampaio (SP) e Cássio Cunha Lima (PB).

- Não tem sentido, porque ele sequer foi referido em qualquer momento. Convocações têm que ter senso de oportunidade na lógica investigativa. Minha decisão nada tem a ver com qualquer partidarização ou direcionamento - sustentou Sampaio.

Os requerimentos só foram aprovados depois que o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), respondeu questão de ordem, levantada pelo deputado Gladson Cameli (PP-AC), que questionou a legitimidade da CPI para investigar governadores.

- Há de se afastar os argumentos trazidos pelo autor da questão de ordem de que, permitida a convocação de governador pela CPI, haveria de se admitir a convocação do presidente da República por uma CPI instalada em Assembleia Legislativa. É que o Congresso Nacional, no exercício de sua função judicante, têm jurisdição em todo o território nacional - disse o presidente.

A confirmação dos depoimentos dos governadores, que ainda não têm data marcada, foi precedida pelo debate sobre a quebra de sigilo bancário e fiscal dos governadores, que acabou não ocorrendo. Para permitir as convocações, nem mesmo as quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônicos dos deputados Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), Sandes Junior (PP-GO) e Stepan Nercessian (PPS-RJ) foram à votação. Na lista das quebras de sigilo, a única aprovada foi a de Demóstenes Torres (sem partido-GO), cujas informações sigilosas desde janeiro de 2002 serão devassadas. Demóstenes tem depoimento marcado para hoje na CPI, mas deve ficar calado.

O GLOBO

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