Economistas afirmam que custos de mão de obra seguem elevados
Efeito positivo da alta do dólar sobre a indústria poderá ter resultado apenas em 2013, diz especialista
Mariana Carneiro
SÃO PAULO - Projeções de analistas do mercado financeiro indicam que o governo conseguirá neste ano elevar a cotação do dólar, como vem pleiteando a indústria, e baixará a taxa de juros a piso inédito.
Ainda assim, o resultado será crescimento modesto, com chance de ser menor do que o do ano passado. O principal entrave é a indústria. Mesmo com dólar valorizado, o setor enfrenta dificuldades e retarda a retomada.
O desempenho fraco no primeiro trimestre levou economistas a projetarem um crescimento de 3,2% em 2012, próximo ao do ano passado (2,7%), o que foi considerado pouco pelo próprio governo.
Tendências e LCA já preveem expansão ainda menor: 2,5% e 2,6%. Na sexta, após divulgação da prévia do PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre, as revisões continuaram.
Estudo dos economistas Zeina Latif e Marcelo Gazzano mostra que a crise na indústria vai além de câmbio e juros. Está ligada ao custo da mão de obra, que continua a subir apesar da atividade fraca, e mina a competitividade.
"Desconfio que teremos uma decepção com a indústria", diz Zeina Latif.
A economista lembra que países como Chile e México também tiveram suas moedas valorizadas frente ao dólar, mas a indústria não parou. Isso indica, diz Latif, que o problema não é só o câmbio.
"O custo da mão de obra está numa trajetória ascendente desde 2010 e coincide com a estagnação da indústria e o aumento dos importados", afirma a economista.
Salário
No primeiro trimestre, a média do custo da mão de obra, calculado pelo BC, ficou 8,7% acima da média do mesmo período de 2011. Resultado dos aumentos salariais puxados pelo reajuste do salário mínimo (14%).
"A indústria não consegue repassar o aumento de custos. Tenho dúvidas se essa desvalorização do real compensará a perda", diz Latif.
Professor da UFRJ e assessor da diretoria de planejamento do BNDES, Francisco Eduardo Pires de Souza observa que o dólar subiu cerca de 20% desde o piso do ano passado, e se permanecer ao redor de R$ 2 pode reduzir os custos do setor em reais.
Ele diz que a competitividade aumenta por três meios: salários menores, ganho de produtividade com inovação ou câmbio desvalorizado.
Mesmo sem os dois primeiros, a desvalorização do real tem impacto. Mas sem resposta imediata. "Não será antes do segundo semestre e talvez só no ano que vem", diz.
Além da demora natural em refazer negócios, muitas indústrias passaram a ser importadoras de insumos e sofrerão aumentos de custos antes de trocar de fornecedor.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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