Para viúva de Herzog, que não descarta encontro com legista, Shibata pode explicar o que aconteceu
Tatiana Farah
SÃO PAULO. A caminho do escritório, Clarice Herzog passa todos os dias na Rua Zapara, Alto de Pinheiros, em São Paulo, onde mora Harry Shibata. Não sabia que apenas 300 metros a separavam do homem que pode ajudar a elucidar a morte de Vladimir Herzog, o Vlado, até que o Levante Popular da Juventude promoveu um "esculacho" na porta do legista, em abril.
- Eu nem sabia que Shibata continuava vivo. Eu vi os cartazes nos postes da minha rua com a foto dele. Só então me dei conta. É o passado presente - disse Clarice, por telefone ao GLOBO.
A viúva de Herzog participou na semana passada da cerimônia de posse da Comissão da Verdade, em Brasília:
- Não adianta esperar que a comissão traga alívio para a mágoa, a dor e a perda. O que eu quero é saber quem assassinou o Vlado.
Para Clarice, Shibata tem a resposta. O legista deu a entender que sabe muito:
- Se a Clarice viesse aqui conversar comigo, eu a receberia com todo o prazer. Para ela, eu poderia até contar tudo o que eu realmente sei. Eu falaria com ela por uma questão de solidariedade.
Consultada pelo GLOBO, Clarice não descartou a visita ao legista.
- Mas eu ainda tenho de refletir sobre isso. Não sei se eu teria coragem de ir até lá.
Para ela, já foi doloroso descobrir quem era seu vizinho:
- Foi constrangedor. Ainda hoje, quando passo na rua dele para ir ao trabalho, eu lembro.
Não seria mesmo fácil esquecer. Shibata limpou as pichações deixadas pelo Levante no muro de sua casa, mas não conseguiu apagar o que foi escrito pelos jovens na calçada: "Suicídio?"
Vladimir Herzog morreu em 25 de outubro de 1975, nos porões do DOI-Codi, em São Paulo. A versão oficial dava conta de que ele havia se enforcado na cela. Recentemente, o fotógrafo Silvaldo Leung Vieira, que trabalhava para a polícia paulista nos anos 70, admitiu à "Folha de S. Paulo" que a foto de Vladimir Herzog, morto em sua cela, foi uma fraude.
A apuração da morte de Vladimir Herzog é cobrada do Brasil pela Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). No dia 30 de maio vence o primeiro prazo para que o governo se pronuncie sobre o caso. Esta semana, em entrevista exclusiva ao GLOBO, o ex-chefe da Operação Bandeirantes (Oban) Maurício Lopes Lima falou sobre Herzog:
- Eu acho que aconteceu o que não devia acontecer em hipótese nenhuma. Tirar a vida de uma pessoa, assim, não sei como foi... por suicídio ou o que foi, não é uma coisa certa - disse ele, que afirma ter deixado a Oban antes da prisão de Herzog.
FONTE: O GLOBO
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