quarta-feira, 16 de maio de 2012

Temendo risco no mensalão, PT desiste de ouvir procurador

Temendo repercussão negativa no julgamento do mensalão, o PT recuou da investida contra o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Em vez de convocá-lo, a CPI pediu explicações por escrito sobre a não abertura de inquérito contra Demóstenes Torres (ex-DEM).

A CPI liberou dados da investigação à defesa de Carlinhos Cachoeira.

PT recua, e CPI desiste de convocar procurador-geral

Comissão aprovou apenas envio de perguntas por escrito a Roberto Gurgel

Ala ligada a Lula vê em disputa com Ministério Público aumento do risco de condenação de réus do mensalão

BRASÍLIA - O PT recuou da investida contra o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e a CPI do Cachoeira desistiu ontem de convocá-lo. Agora, enviará a ele apenas perguntas por escrito.

Gurgel era acusado por integrantes da comissão, incluindo petistas, de ter sido moroso na investigação contra o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), suspeito de ser um dos principais braços políticos do empresário Carlinhos Cachoeira.

A ala do PT mais ligada ao ex-presidente Lula entendeu, porém, que o acirramento da disputa entre a CPI e Gurgel poderia resultar em danos no julgamento dos 36 réus do mensalão, vários deles do PT e de partidos aliados.

A previsão é a de que o julgamento ocorra neste ano, e a acusação será comandada justamente por Gurgel, chefe do Ministério Público federal.

Após a ameaça de ser convocado pela CPI, o procurador declarou que seus críticos tentavam proteger "mensaleiros". Ele foi apoiado por ministros do Supremo Tribunal Federal, local do julgamento, o que teria ampliado a apreensão de petistas.

Com a troca de acusações, o ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão, deverá liberar os autos até o fim do mês, possibilitando o julgamento.

Emissários dos réus procuraram então petistas para pedir que atenuassem o tom dos ataques a Gurgel.

Apesar de o presidente do PT, Rui Falcão, ter dito que a comissão servirá para desmascarar os autores da "farsa do mensalão", aliados de Lula -incentivadores da comissão- começaram a mudar o discurso.

Ainda assim o relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG), não descarta votar uma nova convocação caso a resposta de Gurgel seja insatisfatória.

Segundo o requerimento aprovado pela comissão, Gurgel terá de detalhar em cinco dias úteis os motivos de não ter investigado, já em 2009, as ligações de três parlamentares, dentre eles Demóstenes, com Cachoeira.

Os congressistas querem saber em que data e circunstâncias Gurgel recebeu os autos das operações da PF, e quais providências tomou.

Ontem também foi para a gaveta o pedido de convocação e de quebra de sigilo telefônico da mulher de Gurgel, a subprocuradora-geral Cláudia Sampaio. Ela foi a responsável por analisar o caso dos parlamentares em 2009. Ontem, a Procuradoria-Geral não se manifestou.

Amanhã, a CPI continuará a votar requerimentos de quebras de sigilos, o que pode atingir a empreiteira Delta e governadores supostamente envolvidos com Cachoeira.

Outra medida será tentar tomar na terça o depoimento de Cachoeira. Marcado para ontem, a fala foi suspensa pelo STF sob o argumento de que a comissão não deu à defesa acesso às provas.

A CPI aprovou a entrada dos advogados na sala que guarda os documentos e pedirá ao STF reconsideração.

Ontem, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) adiou, após pedido de vista, julgamento para que Cachoeira, preso desde 29 de fevereiro, seja solto. O placar era de 3 a 0 pela manutenção da prisão.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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