Ex-presidente, no entanto, diz que é importante comissão não se preocupar em reviver o passado
Thiago Herdy, Marcos Alves
SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem que a Comissão da Verdade apure apenas os crimes cometidos pelo Estado durante o período militar, e não eventuais crimes cometidos por opositores do regime, como ainda defendem militares da reserva.
- Eu acredito que o sentido disso aí (é apurar) os abusos do Estado - disse Fernando Henrique ontem, depois de seminário sobre regulação da mídia e democracia realizado no instituto que leva seu nome, em São Paulo.
Militares da reserva defendem que violações cometidas por grupos de esquerda sejam apuradas, mas integrantes da comissão e do governo entendem que apenas os crimes cometidos pelo Estado devem ser foco do grupo de trabalho.
Fernando Henrique viaja hoje a Brasília para participar do ato de nomeação dos integrantes da Comissão a convite de Dilma. Ontem, ele voltou a elogiar a decisão de se criar o grupo que analisará episódios ocorridos no período de 1964-1985.
- A decisão de fazer uma comissão com sentido de Estado é importante. Uma coisa dessa natureza não pode ser de partido, de governo, tem que ser de Estado. Quanto mais se aproximar do que foi feito na África do Sul, melhor - defendeu o ex-presidente, referindo-se ao trabalho que foi realizado no país africano sob a liderança de Desmond Tutu, que atualmente divide com FH espaço em um conselho de notáveis reunido por Nelson Mandela.
Segundo o ex-presidente, a exemplo do que teria ocorrido na África do Sul, o importante é não se preocupar em reviver o clima do passado:
- A ideia é a seguinte: não pode esquecer, mas não pode transformar o passado em motivo de reviver no presente oposições que não têm mais sentido.
FH recebeu em seu instituto os ex-presidentes da Bolívia, Carlos Mesa, e do Equador, Osvaldo Hurtado, para discutir mídia e democracia na América Latina em debate com Rúben Aguilar, ex-porta-voz da presidência do México, e Eugênio Bucci, ex-presidente da Radiobrás.
O evento marcou o lançamento de livro com artigos organizados pelo pesquisador Bernardo Sorj e editado pelo Instituto Fernando Henrique, que busca um debate para além da polarização entre governos (que buscam a regulação) e empresas jornalísticas (que denunciam risco de ataque à liberdade de imprensa).
FH defendeu a necessidade de regulação da mídia como parte da construção da democracia.
- Temos hoje uma arquitetura democrática, mas não temos a alma. É uma ideia que ainda está sendo construída. É preciso apoiar mecanismos de regulação que permitam a diversidade - disse Fernando Henrique.
FONTE: O GLOBO
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