Depois de três meses ruins, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) apontou em junho um significativo avanço de 0,75% em relação a maio. Não dá ainda para concluir que a recuperação seja certa e sustentável, no entanto os novos números da economia são indício disso.
O IBC-Br começou a ser divulgado pelo Banco Central em março de 2010 (calculado retroativamente até 2003) para antecipar o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB), que chega com atraso de quatro meses.
Há um bom tempo, o Banco Central vem reafirmando que a atividade produtiva terá desempenho bem melhor no segundo semestre deste ano do que o apresentado no anterior. E, ainda nesta sexta, seu presidente, Alexandre Tombini, reafirmou essa expectativa.
Ele conta principalmente com o avanço do crédito, com a capacidade mobilizadora da política monetária e com a desvalorização cambial (alta do dólar). Ou seja, mais cedo ou mais tarde, argumenta Tombini, o aumento do crédito, de cerca de 15% ao ano, puxará pelo consumo; a queda dos juros se encarregará, por si só, de criar condições para reacelerar o setor produtivo; e o dólar mais caro empurrará as exportações.
No entanto, é necessário esperar mais tempo para avaliar se há força nesta recuperação ou se não passa de voo de galinha. Essa cautela é recomendável a partir da própria natureza da desaceleração anterior. Em grande medida, deve-se à crise global, que derrubou a renda, o consumo e as encomendas externas. Se essa paradeira nos dois principais centros de consumo – Estados Unidos e área do euro – deverá persistir ainda por muito mais tempo, como os analistas são unânimes em apontar, também não se pode assegurar que a economia brasileira se descolará em relação a ela.
O mau desempenho da economia global e todo o clima de incertezas que o cercam são também responsáveis pelo adiamento dos investimentos por parte dos empresários brasileiros. O Brasil segue apresentando baixos níveis de investimentos, inferiores a 20% do PIB. Enquanto não forem de pelo menos 22% ou 23%, será pouco provável que possa crescer os tais 4,0% ou 4,5% ao ano. Afora isso, investimentos privados engavetados, como apontado, contribuem para a falta de dinamismo na atividade produtiva.
Como dito nesta Coluna em sua última edição, os bons resultados do consumo interno são outro fator que pode sinalizar a recuperação da economia depois de um primeiro semestre notoriamente fraco. Mas, antes de chegar a essa conclusão, é preciso ver o que é somente consequência de estímulos fiscais (isenção ou redução de IPI), que não se repetirão, e o que é embalo sustentável.
Em princípio, esses benefícios tributários devem terminar no final deste mês. O governo não decidiu se serão prolongados. E, mesmo que sejam, é provável que tenham provocado alguma antecipação de compras de bens de consumo durável sem terem criado mercado novo. Nesse caso, o bom desempenho do setor produtivo pode não se manter.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, saiu comemorando o que vê como recuperação. Desempenha seu papel de levantar o moral da tropa – e tomara que tenha razão. Mas é preciso mais tempo para que se possa ter certeza de que a economia brasileira é um albatroz que demora a levantar voo, mas que voa longe.
Aí vai o comportamento do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) nos últimos 7 meses.
Não é por aí. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta sexta-feira que a inadimplência aumentou em consequência dos altos juros praticados pelo mercado. Há certa falha nessa lógica. Se os juros estão caindo – não tanto quanto pretendido, mas estão caindo – não podem ser a causa do aumento da inadimplência. Se houvesse proporção entre o tamanho dos juros e a inadimplência, quando os juros estavam mais altos, a inadimplência seria maior do que a de agora.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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