Fora do poder na capital pela primeira vez em 20 anos, PT pode perder
importante confronto nacional
Maria Lima
BELO HORIZONTE - A disputa pela prefeitura de Belo Horizonte deve confirmar hoje,
segundo pesquisas de intenção de voto, a reeleição do prefeito Márcio Lacerda
(PSB). Mas o grande vitorioso não será ele nem o presidente de seu partido, o
governador Eduardo Campos. Com o PT fora do poder na capital mineira pela
primeira vez em 20 anos, e enfraquecido com a perda de prefeituras importantes
em Minas Gerais, o padrinho Aécio Neves (PSDB-MG) deve começar a semana como a
grande promessa para disputar a Presidência da República com a presidente Dilma
Rousseff.
Diante de um PT enfraquecido após a ruptura da antiga parceria com o PSB na
capital mineira, Aécio ocupou o espaço e sairá fortalecido como a principal
liderança do estado - o terceiro maior colégio eleitoral do país. Seu mérito
será ter conseguido eleger Lacerda no primeiro turno e ter derrotado o
candidato petista Patrus Ananias, que teve a candidatura inventada por Dilma.
Ao final de duas semanas de dura troca de farpas, o tucano tem ainda a seu
favor o fato de ter trazido Dilma para o debate em sua seara, consolidando a
presidente como sua adversária nas eleições de 2014.
- Eu reagi. Eu apenas reajo àquilo que o governo tem dito. Estou muito feliz
com a campanha até aqui. Estamos aqui - desconversa Aécio, que admite ter sido
inevitável a nacionalização da campanha na capital mineira.
A eleição em Belo Horizonte foi atropelada pela disputa em 2014 tanto a
nível estadual quanto federal. Aliados da coligação petista dizem que a
fragilidade da campanha se deve à disputa fratricida entre os grupos do
ministro da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, e o de Patrus Ananias.
O grupo de Patrus trava uma guerra com o de Pimentel, que tem pretensões de
disputar o governo de Minas Gerais em 2014. Isso se acirrou quando Dilma, amiga
de Pimentel, não levou Patrus para o seu Ministério, deixando-o no ostracismo
em Minas, participando de um conselho não deliberativo da prefeitura. Patrus
reinou na era Lula, como ministro do Desenvolvimento Social.
- Se alguém tentou nacionalizar, de maneira artificial, esta eleição, não
fomos nós nem a presidenta Dilma, que mantém sua relação republicana com Minas
e sua ligação com a cidade onde nasceu. E se existem candidaturas postas para
2014, elas estão também do outro lado. Vou cumprir meu mandato de prefeito até
o último dia, com muito orgulho - diz Patrus, certo de que tem chances de uma
virada que o leve ao segundo turno com Lacerda.
Prefeito minimiza racha entre PT e PSB
Aliados de Patrus, reservadamente, admitem que foi uma jogada arriscada a
ruptura da aliança vitoriosa do PT com o PSB, e o lançamento da candidatura
dele com apenas 60 dias de campanha, contra quatro anos do adversário Lacerda.
- Tem gente do próprio PT fazendo campanha para o Márcio por debaixo dos
panos. Estamos solidários, mas quem não está apoiando a campanha de forma
integrada é o PT. Tem que focar na eleição de agora, não na de 2014 - reclamou
o vereador Cabo Júlio (PMDB), da coligação de Patrus.
- O racha forçado pelo PT, naturalmente, promoveu uma intervenção branca do
PT nacional, chamou a atenção da mídia, mas não afeta a escolha do eleitor -
minimiza Márcio Lacerda, que ficou ao largo da discussão política.
O PT corre o risco de perder mais que uma fatia do poder na prefeitura de
Belo Horizonte, o que equivale a cerca de 900 cargos de confiança e arrecadação
de R$ 300 mil mensais em dízimo para o partido. Sairá desidratado com derrotas
em cidades importantes que governa hoje: Betim, Contagem e Nova Lima.
Já na campanha de Lacerda, que ainda tem tudo para ganhar no primeiro turno,
integrantes reclamaram reservadamente da exacerbação da briga de Aécio com
Dilma e o ex-presidente Lula. A briga acabou respingando em Lacerda, quando
Dilma decidiu vir a Belo Horizonte para responder ao tucano, no palanque de
Ananias, aumentando o risco de um segundo turno.
Os lacerdistas agradecem a parceria com Aécio e o governador Antonio
Anastasia (PSDB), e reconhecem que Márcio Lacerda não tem perfil batedor. Essa
função ficou para Aécio. Mas acham que ele passou do tom:
- A gente precisa de alguém que bata, mas não precisava o Aécio chutar na
canela, como fez. Ele insuflou Dilma, e ela decidiu vir aqui lhe dar uma
resposta. Isso foi arriscado. Aécio passou um pouco do ponto - observou um dos
coordenadores da campanha de Lacerda, torcendo para que a disputa verbal entre
Dilma e Aécio não resulte num indesejado segundo turno.
Fonte: O Globo
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