domingo, 7 de outubro de 2012

Aécio sai fortalecido na disputa em BH


Fora do poder na capital pela primeira vez em 20 anos, PT pode perder importante confronto nacional

Maria Lima

BELO HORIZONTE - A disputa pela prefeitura de Belo Horizonte deve confirmar hoje, segundo pesquisas de intenção de voto, a reeleição do prefeito Márcio Lacerda (PSB). Mas o grande vitorioso não será ele nem o presidente de seu partido, o governador Eduardo Campos. Com o PT fora do poder na capital mineira pela primeira vez em 20 anos, e enfraquecido com a perda de prefeituras importantes em Minas Gerais, o padrinho Aécio Neves (PSDB-MG) deve começar a semana como a grande promessa para disputar a Presidência da República com a presidente Dilma Rousseff.

Diante de um PT enfraquecido após a ruptura da antiga parceria com o PSB na capital mineira, Aécio ocupou o espaço e sairá fortalecido como a principal liderança do estado - o terceiro maior colégio eleitoral do país. Seu mérito será ter conseguido eleger Lacerda no primeiro turno e ter derrotado o candidato petista Patrus Ananias, que teve a candidatura inventada por Dilma.

Ao final de duas semanas de dura troca de farpas, o tucano tem ainda a seu favor o fato de ter trazido Dilma para o debate em sua seara, consolidando a presidente como sua adversária nas eleições de 2014.

- Eu reagi. Eu apenas reajo àquilo que o governo tem dito. Estou muito feliz com a campanha até aqui. Estamos aqui - desconversa Aécio, que admite ter sido inevitável a nacionalização da campanha na capital mineira.

A eleição em Belo Horizonte foi atropelada pela disputa em 2014 tanto a nível estadual quanto federal. Aliados da coligação petista dizem que a fragilidade da campanha se deve à disputa fratricida entre os grupos do ministro da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, e o de Patrus Ananias.

O grupo de Patrus trava uma guerra com o de Pimentel, que tem pretensões de disputar o governo de Minas Gerais em 2014. Isso se acirrou quando Dilma, amiga de Pimentel, não levou Patrus para o seu Ministério, deixando-o no ostracismo em Minas, participando de um conselho não deliberativo da prefeitura. Patrus reinou na era Lula, como ministro do Desenvolvimento Social.

- Se alguém tentou nacionalizar, de maneira artificial, esta eleição, não fomos nós nem a presidenta Dilma, que mantém sua relação republicana com Minas e sua ligação com a cidade onde nasceu. E se existem candidaturas postas para 2014, elas estão também do outro lado. Vou cumprir meu mandato de prefeito até o último dia, com muito orgulho - diz Patrus, certo de que tem chances de uma virada que o leve ao segundo turno com Lacerda.

Prefeito minimiza racha entre PT e PSB

Aliados de Patrus, reservadamente, admitem que foi uma jogada arriscada a ruptura da aliança vitoriosa do PT com o PSB, e o lançamento da candidatura dele com apenas 60 dias de campanha, contra quatro anos do adversário Lacerda.

- Tem gente do próprio PT fazendo campanha para o Márcio por debaixo dos panos. Estamos solidários, mas quem não está apoiando a campanha de forma integrada é o PT. Tem que focar na eleição de agora, não na de 2014 - reclamou o vereador Cabo Júlio (PMDB), da coligação de Patrus.

- O racha forçado pelo PT, naturalmente, promoveu uma intervenção branca do PT nacional, chamou a atenção da mídia, mas não afeta a escolha do eleitor - minimiza Márcio Lacerda, que ficou ao largo da discussão política.

O PT corre o risco de perder mais que uma fatia do poder na prefeitura de Belo Horizonte, o que equivale a cerca de 900 cargos de confiança e arrecadação de R$ 300 mil mensais em dízimo para o partido. Sairá desidratado com derrotas em cidades importantes que governa hoje: Betim, Contagem e Nova Lima.

Já na campanha de Lacerda, que ainda tem tudo para ganhar no primeiro turno, integrantes reclamaram reservadamente da exacerbação da briga de Aécio com Dilma e o ex-presidente Lula. A briga acabou respingando em Lacerda, quando Dilma decidiu vir a Belo Horizonte para responder ao tucano, no palanque de Ananias, aumentando o risco de um segundo turno.

Os lacerdistas agradecem a parceria com Aécio e o governador Antonio Anastasia (PSDB), e reconhecem que Márcio Lacerda não tem perfil batedor. Essa função ficou para Aécio. Mas acham que ele passou do tom:

- A gente precisa de alguém que bata, mas não precisava o Aécio chutar na canela, como fez. Ele insuflou Dilma, e ela decidiu vir aqui lhe dar uma resposta. Isso foi arriscado. Aécio passou um pouco do ponto - observou um dos coordenadores da campanha de Lacerda, torcendo para que a disputa verbal entre Dilma e Aécio não resulte num indesejado segundo turno.

Fonte: O Globo

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