Após analisar os casos de corrupção ativa, ministros vão julgar petistas
acusados de lavagem de dinheiro
Carolina Brígido, André de Souza
BRASÍLIA - Concluída esta semana a parte mais tensa do julgamento do
mensalão até agora - a corrupção ativa atribuída ao ex-ministro da Casa Civil
José Dirceu e a mais nove réus -, o Supremo Tribunal Federal (STF) deverá
acelerar o ritmo das decisões. Na próxima quarta-feira, após traçado o destino
dos supostos corruptores, o plenário começará a analisar a conduta de petistas
acusados de lavagem de dinheiro. O voto do relator Joaquim Barbosa deverá ser
dado em poucas horas. Depois, faltarão dois capítulos, que também serão votados
rapidamente. Por fim, os ministros calcularão as penas dos acusados. A
expectativa é que o julgamento termine este mês.
Depois do capítulo do PT, o STF vai tratar da evasão de divisas da qual Duda
Mendonça, Zilmar Fernandes, ex-dirigentes do Banco Rural e o grupo de Marcos
Valério são acusados. O último tema é a quadrilha formada pelo núcleo político,
de Dirceu, o núcleo publicitário, de Valério, e o núcleo financeiro, com a
cúpula do Banco Rural.
Essa parte do julgamento será polêmica. Porém, as discussões não demandarão
muito tempo, pois os ministros já terão tratado da conduta desses réus em
capítulos anteriores. O cálculo das penas deverá tomar mais de uma sessão.
No item sete da denúncia, em pauta a partir de quarta-feira, o STF julgará
os ex-deputados Paulo Rocha (PT-PA), João Magno (PT-MG) e Professor Luizinho
(PT-SP). Ainda está na lista a ex-assessora parlamentar Anita Leocádia, que
pegou dinheiro para Rocha. O outro réu é José Luiz Alves, ex-chefe de gabinete
do ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto.
No próximo item, seis réus
Segundo o Ministério Público Federal, os seis réus que serão julgados nesta
semana movimentaram R$ 2,15 milhões. Rocha recebeu R$ 820 mil do valerioduto,
dos quais R$ 620 mil foram pagos pelos corruptores por meio de Anita Leocádia.
Do dinheiro recebido por Anita, R$ 420 mil foram sacados em agência do Banco
Rural; R$ 200 mil ela recebeu num quarto de hotel. Os outros R$ 200 mil
chegaram a Rocha por meio de outro assessor parlamentar. Magno teria recebido
R$ 360 mil e Professor Luizinho, R$ 20 mil. Adauto e Alves teriam recebido R$
950 mil do esquema.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, nas alegações finais
entregues ao STF em julho de 2011, disse que o dinheiro obtido ilegalmente não
foi usado apenas para o PT cooptar parlamentares de outros partidos. Para Gurgel,
o dinheiro "também serviu para o benefício pessoal de integrantes do
Partido dos Trabalhadores". O repasse foi possível "mediante o
emprego de artifícios com o objetivo de ocultar a sua origem, natureza e real
destinatário". Ou seja, houve lavagem de dinheiro.
Os acusados admitiram o recebimento de dinheiro, mas alegaram desconhecer
sua origem ilícita e informaram que ele foi usado para pagar despesas
político-partidárias. Professor Luizinho, porém, adotou defesa diferente: negou
ser o destinatário do dinheiro.
Luizinho culpou assessor
Em 2007, no julgamento que resultou na abertura do processo do mensalão,
Barbosa afirmou sobre Rocha e Anita:
- Os repasses e recebimentos de recursos provenientes da SMP&B são, no
mínimo, suspeitos, pois se deram através de procedimentos que não fazem parte
da praxe cotidiana bancária (...) sem qualquer registro formal de que o saque
estava sendo efetuado pela denunciada.
Para o Ministério Público, o uso de intermediários, em geral assessores
subordinados aos políticos, procurou evitar que os nomes dos reais
beneficiários fossem descobertos. No caso do Professor Luizinho, seu advogado,
Pierpaolo Bottini, defendeu, no STF, que o assessor José Nilson dos Santos agiu
por conta própria. Mas o MP não concordou com essa versão. Para a acusação,
Luizinho usou o assessor "para evitar que seu nome fosse associado à
operação ilícita". O dinheiro foi liberado após uma ligação de Luizinho
para Delúbio Soares.
Fonte: O Globo
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