A eleição "mais complicada" já havida em São Paulo, na opinião de
Lula, deve ser também, em nível nacional, a mais fragmentada dos últimos
tempos, de acordo com pesquisa do Datafolha, com pequenas legendas ganhando
destaques pontuais, como o PRB em São Paulo. Mas, segundo todas as previsões,
terminará com o quadro mais ou menos estável: PT e PSDB polarizam as disputas
nos maiores colégios eleitorais do país, confirmando o protagonismo que terão
na eleição presidencial de 2014, enquanto o PMDB deverá eleger o maior número
de prefeitos, mantendo a posição de fiel da balança em qualquer coligação
eleitoral.
Se é verdade que as eleições municipais não representam um prognóstico do
que serão as eleições nacionais dois anos depois, desta vez temos diversos
fatores que levam para o campo nacional certas disputas regionais, determinando
uma influência mais perene de seus resultados.
A começar pela presença do ex-presidente Lula no cenário nacional, cuja
influência pode estar declinando à medida que suas intervenções parecem não ter
surtido o efeito pretendido.
A "mais complicada" eleição paulistana pode acabar deixando de
fora da disputa Fernando Haddad, o candidato que o ex-presidente tirou do bolso
de seu colete, outrora considerado milagreiro. Terá sido a primeira vez em que
o PT não disputará o segundo turno na capital paulista, derrota capaz de
quebrar o encanto que se criou em torno das qualidades quase mágicas do líder
operário tornado presidente.
Ir para o segundo turno em São Paulo seria uma compensação política razoável
para o PT contrabalançar derrotas que parecem mais que prováveis, como em
Recife e em Belo Horizonte. Por isso o esforço final de Lula, abandonando os
candidatos sem maiores chances. Não apenas derrotas, mas para um adversário
saído da coligação governista, o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo
Campos, o que aumenta suas repercussões, que em Recife pode ter contornos
patéticos com o candidato imposto pela direção nacional petista ficando fora de
um eventual segundo turno.
O partido de Campos não tem a relevância dos três maiores rivais PMDB, PT e
PSDB, mas terá resultados políticos importantes que o colocarão na vitrine
nacional com ares de independência diante do PT, ao qual continua aliado, mas
"costeando o alambrado", pronto para sair do cerco petista.
Vitórias em Belo Horizonte, Recife e Fortaleza darão musculatura às ambições
políticas de Eduardo Campos, mesmo que as vitórias não sejam completamente
dele. A de Minas é mais do tucano Aécio Neves, e a de Fortaleza, se acontecer,
deve ser atribuída à família Gomes, que não é exatamente aliada do governador
pernambucano, embora do mesmo partido.
Mas, em compensação, a vitória de Recife é toda de Campos, e tem dimensão especial
por ter derrotado a máquina petista. Eduardo Campos sai desta eleição maior do
que entrou, com chances de aspirar a um papel mais relevante nos próximos anos.
Mesmo que diga que não nasceu para ser vice de ninguém, mesmo com a elevação
de sua importância política, ainda não tem condições de protagonista nacional.
Pode, no entanto, vir a compor uma chapa presidencial tanto com Dilma quanto
com o oposicionista tucano.
Especialmente porque o senador Aécio Neves, potencial candidato do PSDB à
Presidência em 2014, saiu da letargia e partiu para atuação oposicionista
efetiva, confirmando sua dimensão política presumida, que andava sendo
questionada.
O rompimento com o PT mineiro e o embate com a presidente Dilma em seu
território, provocado pela própria, que inventou a candidatura de Patrus
Ananias, foram benéficos para os planos de Aécio.
O senador tucano também aproveitou as eleições municipais para viajar pelo
Brasil apoiando candidatos do PSDB, assumindo uma liderança nacional que lhe
caíra no colo na disputa com o hoje candidato a prefeito de São Paulo José
Serra. Mesmo que venha a vencer a eleição paulistana, Serra tem seu futuro
imediato atrelado à prefeitura, não lhe sendo mais possível pensar em
Presidência em 2014.
Mais que isso. Um dos movimentos mais radicais para ajudá-lo a convencer o
eleitorado paulistano de que continuará na prefeitura pelo menos os próximos
quatro anos seria, na campanha de um eventual segundo turno, oficializar seu
apoio a Aécio para a disputa presidencial, um desses paradoxos que somente a
política pode provocar.
Fonte: O Globo
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