Incorreu em grave equívoco quem considerou para efeito de ceticismo supostamente
engajado que o processo do mensalão acabaria "dando em nada". As
condenações em massa que no Supremo Tribunal Federal (STF) alcançam os generais
da banda do núcleo político fecham um ciclo. Se, quando e como outro vai se
abrir, veremos. Mas a descrença e a apatia até aqui sofreram um duro revés.
Já no recebimento da denúncia, há cinco anos, havia ficado patente que o STF
não estava disposto a contemporizar. Note-se que a composição não era a mesma
de hoje. Ainda assim, lá os juízes de maneira quase sempre unânime deram o
aviso geral aos navegantes que agora se confirma: chega. Ou os políticos
entendem que precisam andar nos trilhos como qualquer cidadão ou terão de arcar
com as consequências legais.
Não vai nisso o peso da responsabilidade exclusiva do PT. O partido não
inventou a delinquência governamental nem a venalidade legislativa – para usar
palavras do ministro Celso de Mello –, não obstante tenha se valido delas à
exorbitância.
Agravou um quadro grave quando emprestou à ilicitude sua marca construída na
defesa da ética.
Conferiu indulgência social à cultura de transgressão, além de associar sua
ideologia aos piores instrumentos, e de se aliar aos mais nefastos operadores
para pôr o aparelho de Estado a serviço de um projeto partidário tão longevo
quanto hegemônico.
Quando decidiu abrir o processo, o STF também surpreendeu. Pela veemência
dos termos usados pelos ministros e pela implacável objetividade do retrato
traçado na denúncia do então procurador-geral Antônio Fernando de Souza sobre o
esquema montado pelo PT para dar suporte financeiro ao seu projeto.
Na ocasião, o uso de métodos espúrios para o exercício do que se chama de
política, mas não passa de pura bandidagem, já tinha chegado ao limite do
insuportável. No entanto, mandantes e executores acharam por bem prosseguir.
E pelo visto agora com as apreensões de dinheiro para abastecer campanhas do
PT no Amazonas e no Pará, insistem. Quando se vê um assessor do partido em
Manaus ser flagrado com notas na cueca anos depois de vexame semelhante, é de
se perguntar o que ainda mais será preciso além de punição pesada para que o
recado seja devidamente compreendido.
Não são suficientemente duras as lições de um julgamento em que gente
acostumada ao tratamento de "excelência" é chamada de "quadrilha"
e referida pela autoria de tramas sórdidas reveladas para todo o país no relato
dos autos?
Seja qual for o rumo dos acontecimentos logo após o desfecho desse caso,
algo de útil já ficou patente: não dá para fazer tudo do jeito mais errado e
esperar que dê certo no final.
Por lamentável que seja o cenário, por mais lentas que sejam as mudanças,
nada disso terá sido em vão. E o PT, se tiver cabeça, ainda poderá se redimir e
algum dia dizer que deu – por vias transversas e adversas – uma grande contribuição
ao Brasil.
Gato por lebre. A presença do vereador e suplente de Marta Suplicy no Senado, Antonio Carlos
Rodrigues (PR-SP), na campanha do tucano José Serra, traduz a grave distorção
que o atual modelo de suplência provoca na vontade do eleitor. A pessoa vota em
Marta, do PT, mas acaba representada por um político que milita no campo
adversário, do PSDB. E isso sem ter dado um único voto ao substituto, incluído
na chapa por obra dos acertos entre partidos.
Banca do distinto. É o tal negócio: quanto mais alto o coqueiro maior é o tombo. Vai ficando
claro que o foro especial para autoridades nem sempre é um privilégio. Depende
muito da disposição da Corte de não deixar que a justiça tarde e muito menos
falhe.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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