Pesquisas apontam
reeleição de Eduardo Paes no primeiro turno
Prioridades incluem
saúde, saneamento, transportes e organização das Olimpíadas
Ao final de uma
campanha marcada pela ampla vantagem nas pesquisas de Eduardo Paes (PMDB),
candidato à reeleição, o carioca vai escolher hoje o prefeito que terá um duplo
desafio: resolver velhos problemas, como saúde, saneamento e transportes, e
preparar a cidade para as Olimpíadas - com a chance histórica de transformar o
legado dos Jogos num marco de refundação da cidade.
Um desafio olímpico
Carioca escolhe hoje prefeito que erguerá bandeira dos Jogos; pesquisas
indicam reeleição de Paes
Chico Otavio
Na noite de 24 de agosto de 2016, no Maracanã, o prefeito carioca sacudirá
quatro vezes a bandeira olímpica antes de entregá-la ao próximo anfitrião dos
Jogos Olímpicos. Depois que as luzes do estádio se apagarem, ele levará para
casa a certeza de que ingressou definitivamente na galeria dos prefeitos
históricos da cidade, ao lado de nomes como Pereira Passos e Pedro Ernesto. E
hoje, a partir das 8 horas, 4,7 milhões de eleitores aptos a votar escolherão
quem vai merecer a honraria.
Se as urnas confirmarem a tendência medida pelas pesquisas, o escolhido será
o mesmo que em agosto recebeu a bandeira das mãos do prefeito londrino Boris
Johnson. As últimas sondagens do Ibope e do Datafolha sobre a disputa pela
prefeitura do Rio indicam uma folgada vantagem de Eduardo Paes (PMDB) rumo à
vitória no primeiro turno. Na pesquisa do Datafolha, divulgada no dia 4, Paes
cresceu de 55% para 57% das intenções de voto. No Ibope, dois dias antes, o
prefeito também apareceu com 57%, cinco a mais do que na pesquisa anterior.
Foram três meses de uma campanha morna, praticamente sem sobressaltos no
projeto de reeleição do peemedebista. Embora os mesmos institutos confirmem a
evolução de Marcelo Freixo, do PSOL, a arrancada não deve ser suficiente para
provocar o segundo turno. No Datafolha, Freixo cresce de 19% para 20%. No
Ibope, de 17% para 18%. Para impedir a vitória hoje de Paes, o candidato do
PSOL terá de contar com um bom desempenho dos demais concorrentes, mas as
sondagens mostram a situação inversa: a intenção de votos em Otávio Leite
(PSDB), Rodrigo Maia (DEM) e Aspásia Camargo (PV) estagnou ou encolheu nos
últimos dias.
- A temperatura da campanha tende a ser morna quando a disputa tem um
candidato à reeleição bem avaliado - explica Alessandra Aldé, professora da
Faculdade de Comunicação Social da Uerj e especialista em eleições.
Há quem acredite que, com um único voto, o carioca estará elegendo hoje dois
prefeitos: o tradicional, a se ocupar dos velhos problemas da cidade, e o
olímpico, que terá nos calcanhares o Comitê Olímpico Internacional (COI) e
prazos apertados para conclusão de obras. Mas o vencedor das urnas será um só e
enfrentará o desafio de unir esses dois perfis distintos e transformar o legado
dos Jogos num marco de refundação da cidade.
Em 2010, o professor de Engenharia de Transportes Paulo Cezar Ribeiro, da
Coppe/Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia
(UFRJ), fez lembrar um profeta apocalíptico ao alertar que, em dez anos, o Rio
teria uma frota de 4,5 milhões de veículos, dos quais três milhões de
automóveis. Ele próprio, um especialista no assunto, se arrepiou ao prever o
tamanho do nó no trânsito. Recentemente, Ribeiro refez os cálculos e concluiu
que a previsão estava errada:
- Vamos chegar aos três milhões de automóveis muito antes disso. Não sei se
as soluções previstas darão conta do problema.
O professor se refere aos projetos de mobilidade urbana, uma das principais
responsabilidades da prefeitura nos preparativos da cidade para os Jogos.
Relatório do COI apontou o transporte como ponto fraco do Rio. Para
enfrentá-lo, estão previstas melhorias nos sistemas de trens, de ônibus e,
principalmente, de metrô, mas a principal aposta da prefeitura é no BRT (Bus
Rapid Transit), um sistema de ônibus articulado para 160 passageiros que
circula em corredores exclusivos.
O Rio do futuro prefeito é uma cidade onde a modernidade coexiste com o
atraso. Basta descer de um BRT e entrar num hospital público. A Saúde pública
carioca obteve a pior avaliação entre as maiores cidades do país medidas pelo
novo indicador de qualidade criado pelo Ministério da Saúde. Numa escala que
vai de 0 a 10, o Rio tirou nota 4,33 no Índice de Desempenho do Sistema Único
do Saúde (IDSUS), abaixo da média do país, que ficou com 5,47. Os dados são de
2008 a 2010, mas o ministério reconhece que houve uma melhoria em 2011.
Também prosperaram os indicadores de Educação. Dados do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2011, do Ministério da Educação
(MEC), mostraram que, entre as capitais do país, o Rio subiu uma posição nos
anos iniciais do ensino fundamental. A nota do Ideb aumentou de 5,1, em 2009,
para 5,4. Já nos anos finais, a melhora foi de cinco posições e a nota subiu de
3,6 para 4,4. Mas os avanços na saúde e educação ainda são discretos. No Ideb,
por exemplo, a cidade está atrás de cinco capitais. Ainda há muito o que fazer.
Desde a redemocratização do país, o prefeito carioca que conseguiu ir mais
longe, Marcello Alencar, chegou ao Palácio Guanabara. Em dois anos, a vaga de
governador estará novamente aberta. Resta saber se a tentação de suceder a
Cabral será maior que as quatro sacudidas na bandeira olímpica em pleno
Maracanã.
Fonte: O Globo
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