terça-feira, 16 de outubro de 2012

PT vai outra vez com o PMDB em 2014 - Raymundo Costa


O primeiro turno da eleição municipal de 2012 representou a pá de cal na ideia de uma aliança de esquerda reunindo PT, PSB e PCdoB nas eleições presidenciais de 2014. Já agora, na campanha de 2º turno, o PT dá tratamento preferencial ao PMDB, ao negociar as coligações locais com a premissa de que o partido será o seu aliado na sucessão da presidente Dilma Rousseff.

O PT resolveu solidificar a relação com o PMDB. É uma decisão de "estado-maior". O 2º turno é a expressão dessa decisão. A presidente já havia assegurando aos pemedebistas seu aval ao acordo entre as siglas pelo qual o PMDB assumirá a presidência da Câmara e Senado em 2013.

Há problemas à vista no PMDB. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, lançou o nome do governador Sérgio Cabral para vice de Dilma, no lugar de Michel Temer. A reação se deu no tom gaiato de Geddel Vieira Lima, um dos vice-presidentes da Caixa e aliado de Michel: o que Paes estaria propondo, segundo Geddel, seria a instalação da "República dos Guardanapos" no governo - uma referência a celebrações feitas em Paris, em ambientes cinematográficos, pelo governador, alguns secretários e o empresário Fernando Cavendish, da construtora Delta. Cavendish e secretários foram fotografados com guardanapos amarrados à cabeça.

"República dos Guardanapos" inibe candidatura Cabral

Outro pemedebista adverte que a CPI do Cachoeira, espécie de cativeiro onde a Delta e seus amigos são mantidos como reféns, ainda não acabou.

Certamente mais de um motivo jogou na lata de lixo a tal coligação de esquerda entre PT, PSB e PCdoB. Na prática, o primeiro turno demonstrou que a ideia não deu certo. Por que? O PT lançou candidato contra o PSB e o PCdoB, onde as duas siglas menores poderiam aspirar a cabeça de chapa, enquanto PSB e PCdoB lançaram candidatos onde o PT era competitivo. A concorrência com o PCdoB não se deu apenas em Porto Alegre (RS), mais visível por se tratar de uma grande capital, mas também em cidades médias e pequenas.

No caso do PSB, é visível para o PT que o partido do governador Eduardo Campos (PE) começou a fazer um jogo próprio com vistas à sucessão de 2014, em detrimento da aliança de esquerda. Essas são as razões alegadas para o PT fazer o próprio jogo, e nesse jogo dar prioridade para o PMDB.

O curioso é que a disputa interna do PMDB deve ser fortemente influenciada pelo futuro do PT, já em discussão, independentemente da eleição ou não do ex-ministro Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo.

Para onde vai o PT? A variável mais importante é o mensalão. Na reunião do Diretório Nacional, após a condenação de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, foi unânime a manifestação de solidariedade aos três ex-dirigentes. De todas as tendências e até dos críticos da gestão de Delúbio como tesoureiro do PT. As propostas foram ousadas, de atos públicos a sessões de desagravo. Menos mal para o PT, agora, é que seus antigos dirigentes, sejam punidos com penas como prisão em regime aberto ou semi-aberto. Será mais fácil de administrar politicamente.

A segunda variável é o futuro de Lula no PT ou o futuro do PT em relação ao Lula. Se Haddad vencer a eleição em São Paulo, Lula será outra vez enaltecido como grande estrategista político e o partido cala o que tem atravessado na garganta: o viés intervencionista do ex-presidente da República. Afinal, ele inventou Dilma e Haddad e eles deram certo. Sem falar de Marcio Pochmann, ex-presidente do Ipea, outra invenção de Lula que passou para o segundo turno. Nesse cenário, os erros no Recife, Belo Horizonte e Fortaleza tendem a ser esquecidos. O ex-presidente passa a ter a unanimidade de um partido que hoje engole, mas não concorda com muitas das decisões do líder máximo.

O outro cenário é Haddad perder a eleição. Ganha corpo a crítica ao intervencionismo do ex-presidente. Lula será responsabilizado pelos "desastres" em São Paulo, Belo Horizonte e Recife. E será lembrado que onde ele deixou de apoiar o candidato do PT, caso de Fortaleza, a prefeita Luizianne Lins levou seu candidato para o segundo turno. Sozinha.

Em particular, o senador Humberto Costa (PT-PE) tem reclamado de que só entrou na disputa do Recife a pedido de Lula. "Nem o João da Costa nem o Maurício (Rands). É você", teria determinado Lula. Humberto foi. Ficou sozinho no Recife. O ex-presidente não passou nem perto da cidade. Os dirigentes petistas sonham com um núcleo maior de decisão, como foi até a eleição de 2002.

Fortalecido, Lula pode influir na escolha do PMDB para o candidato a vice de Dilma em 2014. É conhecida sua proximidade com Sérgio Cabral, assim como a antipatia que tem por Michel Temer. Ocorre que Temer efetivamente aproximou o PMDB de Dilma e do PT. Já na noite da eleição ele chamou o candidato Gabriel Chalita para conversar sobre o apoio a Haddad no segundo turno. O anúncio do apoio foi adiado por um dia porque Chalita tentou impor condições, contornadas com habilidade pelo vice e presidente licenciado do PMDB. É possível que Paes, ao sugerir a vice para Sérgio Cabral, na realidade tenha em vista um ministério com vínculos com o Rio. Mas já abriu uma guerra com o grupo que apoia Temer, como fica demonstrado pela declaração de Geddel.

Aescolha da campanha de Serra de explorar extensivamente o julgamento do mensalão remete a lembrança de alguns políticos, inclusive do PSDB, à campanha presidencial de Geraldo Alckmin em 2006. No primeiro debate, Alckmin foi agressivo, falou de corrupção, mensalão e surpreendeu Lula. O ex-presidente ficou intimidado. Além de não ser do estilo de Alckmin, ao ser muito agressivo, o atual governador de São Paulo exagerou e ao exagerar, perdeu. O mesmo fenômeno pode ocorrer na campanha de Serra: ao exagerar no mensalão, o candidato do PSDB passa a imagem de que disputa o terceiro turno contra Lula, quando deveria estar mais preocupado com assuntos relacionados à cidade de São Paulo. Para efeito de registro, o marqueteiro de Serra é o mesmo que tocou a campanha de Alckmin em 2006, o jornalista Luiz Gonzales.

Fonte: Valor Econômico

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