quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A PF, as agências, Lula, Dirceu e Dilma, o aparelhamento e o gigantismo estatal – Jarbas de Holanda

Os indiciamentos e prisões pela Polícia Federal, desencadeados na última sexta-feira, de várias autoridades – entre elas a chefe do escritório da presidência da República em São Paulo, o diretor adjunto da AGU – Advocacia Geral da União e diretores de agências reguladoras de serviços públicos – trouxeram ao conhecimento da sociedade, além de mais um escândalo de corrupção na área federal, o trabalho de uma quadrilha atuante em vários órgãos do governo, montada a partir da daquele escritório, centrada nas referidas agências e contando com o respaldo de pareceres da AGU para serem vendidos a comparsas da iniciativa privada. Negociatas propiciadas e favorecidas pelo processo de esvaziamento das agências (como instituições independentes do Executivo) e de aparelhamento partidário delas, iniciado no primeiro mandato do ex-presidente Lula, acentuado após a saída do governo do ministro Antonio Palocci e de sua equipe, e mantido na atual administração.

Dilma Rousseff, com a decisão, correta, tomada logo no sábado, de afastar o primeiro lote de indiciados, de um lado tratou de distanciar- se das implicações políticas do escândalo (que se voltam especialmente contra José Dirceu e o ex-presidente Lula). Procurando assim reafirmar seu marketing ético e antecipar-se aos desdobramentos das investigações (que já mostram a amplitude das articulações da quadrilha), bem como ao tratamento delas pela oposição no Congresso, onde o maior risco a ser evitado é a convocação de uma CPI. E, de outro lado, buscando reduzir as implicações também negativas para a avaliação do desempenho administrativo do governo. Já afetado pelos PIBs muito baixos dos dois primeiros anos, pelo grande atraso da execução dos projetos inseridos no PAC e por sérios problemas na área energética (na Petrobras e nas concessionárias hidrelétricas). O que coloca para ela o imperativo de reverter tudo isso na metade final do mandato (como condicionante básica da candidatura à reeleição), em grande me-dida na dependência de um salto de investimentos públicos e privados nas áreas de infra-estrutura vinculadas às agências cuja atuação é posta em xeque pela operação “Porto Seguro”.

Decorrem dos cuidados com sua imagem ética e, sobretudo, de preocupações com esse imperativo as fortes reações públicas da presidente – a inicial e as seguintes – ante os graves delitos revelados pela operação policial. E manifestações que ela passa a fazer contra o aparelhamento partidário da máquina federal. Indicativas de um propósito, agora não apenas retórico, de interrompê-lo ou restringi-lo o mais possível. O que representará, se efetivado, uma reorientação positiva do governo, embora propicie um ataque apenas a efeitos do problema, cuja verdadeira causa é o gigantismo estatal. Que aqui, ou na China (do ortodoxo capitalismo de estado que inspira o lulopetismo e é admirado pela própria presidente) constitui o terreno fértil para a prática da corrupção de agentes públicos. Gigantismo que vem sendo alimentado e até reforçado em sucessivas ações intervencionistas do governo (de forte viés estatizante) nas relações com o conjunto do empresariado – estas na verdade o maior empecilho às ambiciosas metas da presidente Dilma de investimentos e expansão da economia.

Jarbas de Holanda é jornalista

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