Para todos os
efeitos, o governador Eduardo Campos não tem nada com isso: a decisão de entrar
da disputa pela presidência da Câmara, atrapalhando o rodízio acertado entre PT
e PMDB, é da bancada do PSB. Mas ele não só não fará nada para demover os 32
deputados do seu partido de lançar a candidatura de Júlio Delgado, como ficou
de consultar Gilberto Kassab sobre a possibilidade de o prefeito de São Paulo
liberar os 50 deputados do PSD para também decidirem como melhor lhes convier,
deixando de lado o compromisso.
Se Kassab aceitar,
começa a fazer água o acordo que até então garantia o líder do PMDB, Henrique
Eduardo Alves, como candidato “natural” e haverá emoções fortes pela frente.
Caso o projeto prospere, o Palácio do Planalto caminhará sobre ovos. Em tese
está comprometido com o pacto pelo qual o PMDB sucede o PT no comando da Câmara
para o período 2013/2014. Mas se o PSB – vale dizer, Eduardo Campos – entra no
jogo, a coisa complica e põe o governo diante do seguinte dilema: ajudar a
eleger o peemedebista e com isso contrariar o PSB ou manter distância
provocando desagrado no PMDB.
Sem passar recibo, o
governador de Pernambuco estaria na prática fazendo um movimento para testar
suas relações com o Planalto. Se houver empenho da Presidência da República no cumprimento
do acordo, ele interpretará como um sinal de descaso. Algo assim como se Dilma
estivesse pagando o táxi de Eduardo Campos para fora da área de influência
governista.
Por ora, o PSB faz o
discurso da preservação da lealdade, mas marcando posição de autonomia
político-eleitoral. Soa um tanto ambíguo, mas foi o que aconteceu na eleição
para a prefeitura do Recife, entre outras cidades nas quais o partido se
confrontou com o PT.
Já conversam
abertamente com Júlio Delgado as bancadas do PV, PTB, PRB, PSC e parte do PDT,
o equivalente a cerca de 100 parlamentares. Mais que isso, 174 deputados se
reuniram com ele nesta quarta-feira em Brasília, a pretexto da comemoração do
aniversário ocorrido há dez dias.
Discretamente, o PSDB
estimula a candidatura por intermédio do senador Aécio Neves. Mineiro como
Delgado, aliado regional do PSB do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda,
e interessadíssimo em qualquer movimento que possa produzir cizânia na base
governista. Base esta já devidamente dividida quanto a esse assunto, a começar
por um dos signatários o acordo, o PT.
Também aqui como em
tudo nessa disputa, as coisas se passam em duas dimensões: uma no palco, outra
no bastidor. Oficialmente os petistas estão firmes com o acordo, há candidatos
na bancada a vice-presidente da Câmara e as declarações públicas são todas de
apoio e entusiasmo. Longe dos microfones, no entanto, não são poucos os
deputados petistas que olham com agrado para a possibilidade de o próximo
presidente da Casa ser de outro partido.
Ocorre que, pelo
critério da maior bancada, o PMDB deve ficar com a presidência do Senado, onde
não se fez acordo algum. Se presidir também a Câmara, o partido vai concentrar
todo o poder no Congresso. Isso sem contar a vice-presidência da República e os
ministérios.
Essa concentração tem
servido de argumento ao PSB para fazer ver ao governo que não seria mau negócio
deixar que o Parlamento cuide de esvaziar a candidatura de Henrique Alves. Além
de cortar parte das asas do PMDB, daria a Campos um recado de que a aliança
para 2014 não está fechada desde já. Claro que não seria uma garantia de nada,
embora desse ao governo um ganho de tempo.
A eleição da
presidência da Câmara não é fator determinante para a decisão do governador
sobre seu rumo, mas se não fosse uma variável importante no processo não
haveria necessidade de o PSB dar tal demonstração de autonomia.
Fonte: O Estado de S.
Paulo
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