Se os ministros têm rasgos de sinceridade e são os primeiros a reconhecer
que as coisas não andam como deveriam, quem somos nós para discordar?
Miriam Belchior, do Planejamento, admitiu que atrasos são "a regra do
jogo", enquanto apresentava um cronograma de obras prioritárias cheio de
sinais verdes duvidosos. E José Eduardo Cardozo, da Justiça, já disse que as
prisões são medievais -prefere morrer a ficar preso.
O Planejamento cuida do PAC, programa que mereceu incontáveis apresentações
midiáticas e alavancou a candidatura Dilma Rousseff à Presidência. Já o
Ministério da Justiça é responsável pelo sistema penitenciário e pela guarda de
presos em condições humanas e dignas. E Belchior e Cardozo são do partido que
completa dez anos no poder.
Suas falas não caíram no vazio. Neste mesmo espaço, pela ordem, Valdo Cruz,
eu, Melchiades Filho e Fernando Rodrigues apontamos o descompasso entre a
imagem de eficiência e a eficiência real do governo.
Exemplos: as vencedoras das licitações dos aeroportos tinham experiência,
sei lá, no Butão e na Conchinchina; as novas concessões subiram no telhado; o
programa dos portos encalhou; o mercado reclama de "quebra de
contrato" na energia elétrica; o setor aéreo pinta e borda; os apagões são
rotineiros; a Petrobras só dá más notícias.
Mas, apesar dessas e outras, o governo é muito bem avaliado desde o início e
Dilma continua concorrendo com Lula em popularidade.
Para Gustavo Patu, um dos autores da reportagem de hoje sobre PAC e atrasos,
há duas explicações para o descompasso entre imagem e realidade: o marketing
excelente, herdado de Lula, e os dados de emprego, que são, de fato, muito
bons.
A "gerentona" Dilma não deve se contentar só com isso. Tem de
descobrir o que está errado. Um bom começo seria ouvir ou demitir os seus
ministros -e não só gritar com eles.
Fonte: Folha de S. Paulo
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