Raymundo Costa e Raquel Ulhôa
BRASÍLIA - Em 1985, o PSB elegeu um único prefeito. O do Recife, Jarbas
Vasconcelos, hoje senador dissidente no PMDB. Este ano, elegeu 443, vai
governar cerca de 15,3 milhões e administrar um orçamento de R$ 22,2 bilhões
apenas nas cinco capitais nas quais saiu vitorioso - Belo Horizonte, Recife,
Fortaleza, Cuiabá e Porto Velho. Além disso, a sigla reelegeu 71% de seus
prefeitos, um índice bem maior que os 55% da média nacional. Em 2008, o partido
obteve nas eleições municipais 5,6 milhões de votos. Neste ano, 8,5 milhões
digitaram o número 40 nas urnas eletrônicas, ou seja, o PSB teve um crescimento
de 51,6% de eleitorado.
À esquerda, o PSB já é uma alternativa ao PT e dispõe até de um
presidenciável, Eduardo Campos, o governador mais bem avaliado do país. Qual a
receita do sucesso? O próprio Eduardo, governador de Pernambuco e presidente
nacional do partido, arrisca uma explicação: "Somos um partido com
unidade, propostas, bons quadros e que, quando governamos, mantemos o discurso
e envolvemos o povo na gestão."
Na realidade, o PSB se tornou protagonista depois que Eduardo Campos assumiu
sua presidência. Tornou-se um partido profissional, tem uma fundação
funcionando em sede própria e estabeleceu critérios para filiações. "Não
damos esse valor à filiação cartorial, ela é pouco representativa", diz
Carlos Siqueira, secretário-executivo. "Não adianta ter 1 milhão de
filiados que nem sabem o que é o partido, a nossa preferência é filiação
seletiva".
O PSB tem mais de 500 mil filiados. Cada um deles com carteirinha (tipo cartão
de crédito) e um número nacional. Os candidatos recebem cursos para fazer a
campanha e, uma vez eleito, cursos de gestão, todos patrocinados pela Fundação
João Mangabeira. O partido também ensina seus prefeitos como fazer um projeto e
encaminhá-lo para o governo federal - a falta de bons projetos é um dos
argumentos do Ministério do Planejamento para o não atendimento de recursos
para municípios.
O vice-presidente Roberto Amaral enumera três possíveis razões para o
crescimento do PSB. O primeiro é que o partido se preparou para a eleição. O
segundo "o reconhecimento da nossa coerência: o PT não foi prejudicado
pelo mensalão [nas eleições], mas nós fomos beneficiados", diz Amaral. A
terceira é a conjugação de duas coisas: "Fixamos na população a ideia do
novo e a eficiência administrativa dos nossos governos."
Amaral não está contando vantagem: no ranking dos governadores do Datafolha,
Eduardo Campos aparece como o governador mais bem aprovado do país. O próprio
Campos recebeu da ONU, em Nova York, o Prêmio das Nações Unidas de Serviço
Público. É o UNPSA, considerado uma espécie de "Oscar" da gestão
pública mundial. Na quinta-feira a presidente Dilma Rousseff homenageou o
governador do Ceará, Cid Gomes, por um programa que ele desenvolve no Estado
chamado "Pacto Nacional pela Educação na Idade Certa". O ministro
Aloizio Mercadante (Educação) já cogita expandir pelo país a experiência
cearense.
Aliás, as gestões do PSB vão bem, quando o assunto é educação: o município
de Carnaíba, em Pernambuco, tirou o 1º lugar no Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb).
Outro caso de sucesso é a aprovação do prefeito de Minas Gerais, Marcio
Lacerda, reeleito no primeiro turno. É a maior prefeitura governada pelo partido,
com um orçamento de R$ 9,9 bilhões. No caso mineiro, os dirigentes pessebistas
reconhecem que se trata de uma sucessão de boas administrações: começou com
Patrus Ananias (PT), tendo Célio de Castro (PSB) como vice. Na sucessão de
Patrus, o PT resolveu lançar um candidato próprio, apesar de haver um acerto de
que o partido apoiaria seu vice. Célio enfrentou e ganhou do candidato do PT
tendo um nome do PMDB como vice. Na reeleição, a chapa já tinha o hoje ministro
Fernando Pimentel (PT) como vice. Com a morte de Célio de Castro ele assumiu o
cargo e deixou a prefeitura reconhecido como bom gestor e ótimo índice de
aprovação.
Os gestores do PSB são estimulados pela direção e nos encontros para troca
de experiências a estabelecer metas. Um dos méritos atribuído a Eduardo Campos
é ter contratado uma fundação privada para buscar um modelo para a educação e a
saúde. Segundo o secretário-executivo Siqueira, o PSB também não
"aparelha" as administrações que conquista. "Acho que a
participação dos partidos é natural mas tem que ser com gente que tenha perfil
correspondente para a área". Do contrário, "Nós continuamos
desqualificando a atividade política", diz.
Existe orientação do partido de que a melhor forma de valorizar a política é
qualificar a atividade político administrativa. "Se você não qualifica e
mistura partidarização e administração, cai fatalmente no convencional e no
resultado sem expressão. Negativo até", argumenta Siqueira.
Apesar de ostentar a palavra socialista na sigla, o PSB não é um partido
estatizante, como demonstram as ações em conjunto com a iniciativa privada em
Pernambuco. Ou o apoio que deu a candidatos do DEM em Maceió (AL), e ao PSDB em
Belém (PA). Mas também exerce um certo "centralismo", em geral por
meio da Comissão Executiva Nacional, muito embora Eduardo Campos tenha o
controle efetivo do partido.
O PSB, por exemplo, não tolera correntes, facções ou tendências, como
acontece no PT. Criado em 1947, o PSB foi extinto pelo regime militar de 1964.
A refundação veio com a redemocratização, em 1985. Um grupo que saiu do PMDB
tentou uma participação autônoma e foi convidado a sair. O mesmo ocorreu com
Arthur Virgílio, prefeito eleito de Manaus, que em 1989 apoiou a candidatura de
Mário Covas (PSDB) contra a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva,
recomendada pela direção partidária.
Outro caso exemplo é o de Anthony Garotinho, o ex-governador do Rio de
Janeiro que em 2002 disputou a Presidência pelo PSB. Ele tentou organizar uma
corrente própria. O PSB fez um recadastramento e excluiu o seu candidato de
seus quadros. Atualmente, o PSB vive uma situação parecida, no Ceará, com o clã
Ferreira Gomes, os irmãos Ciro e Cid. Fala-se na cúpula do PSB que Ciro está
sondando e sendo sondado por outros partidos.
O PSB, definitivamente, deixou de ser caudatário do PT e passou a ser uma
opção efetiva, à esquerda, ao Partido dos Trabalhadores. Aos poucos, o partido
está entrando em cidades do Sudeste do porte de São José do Rio Preto e
Campinas, Duque de Caxias, Petrópolis e Uberaba. No Sul, perdeu Curitiba (PR).
E era uma disputa à reeleição. E tem um nome à mão para presidente da
República: Eduardo Campos.
"Se não for [candidato a presidente] vai ser uma grande besteira",
acredita Siqueira. "Ele foi eleito governador com 41 anos, vai sair com
49, administração muito bem sucedida. Tem um partido político que lidera com
hegemonia muito grande. Se ele quiser ser candidato, será. O partido apoiará.
Por que não ser, se a eleição é em dois turnos". Um erro não só em relação
à candidatura de Eduardo, mas também para o crescimento e consolidação do PSB.
"Sempre que o PSB abriu mão ter candidato próprio foi para prejuízo
dele".
Fonte: Valor Econômico
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