Raymundo Costa
BRASÍLIA - A antecipação, em dois anos, do anúncio de que a chapa da
reeleição da presidente Dilma Rousseff será a mesma da eleição de 2010 deixou o
PMDB mais tranquilo em relação a sua parceria com o PT, nos próximos dois anos,
mas não eliminou todas as desconfianças. O partido continua sentindo-se
sub-representado no governo e "o alto grau de incertezas da economia"
já leva alguns dirigentes a pensar numa alternativa ao nome da presidente, na
sucessão de 2014.
Um ministro do PMDB disse ao Valor que, se algum incidente de percurso tirar
o partido da chapa de Dilma nas eleições presidenciais, nada impede que a opção
seja o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Até bem pouco tempo os
pemedebistas temiam que Eduardo cobiçasse o lugar de Michel Temer como vice da
chapa governista. Atualmente, no próprio Palácio do Planalto acredita-se que
Campos pode entrar na disputa em 2014. Ele não teria nada a perder. No mínimo
se tornaria mais conhecido para a eleição seguinte.
As discussões sobre a opção a Dilma são sempre acompanhadas pela avaliação
do quadro econômico. O PMDB está intrigado com a falta de investimento privado
e considera o governo atado a medidas pontuais como as desonerações para a
linha branca, automóveis e o estímulo ao crédito, "iniciativas de fôlego
curto". E o investimento público não chegou à metade do previsto, segundo
os pemedebistas.
A prudência do empresariado é que acendeu o sinal de alerta. Está claro para
o PMDB que a equipe econômica abandonou - sem declaração oficial - o tripé meta
de inflação, superávit primário e câmbio flutuante, ou seja, os fundamentos que
sustentaram a estabilidade econômica. A dúvida dos políticos (essa é uma discussão
não só no PMDB, mas também na oposição) é se essa política será um sucesso
retumbante ou um desastre de igual proporção. Neste último caso, o governo
Dilma chegaria ao final inviabilizado politicamente.
Embora digam que é muito cedo para traçar um cenário para daqui a dois anos,
o fato é que os pemedebistas discutem alternativas. Um ministro aponta o
reatamento político de Jarbas Vasconcelos com o governador de Pernambuco como
um "bom indício", embora o senador seja dissidente da atual cúpula
partidária. Entre os senadores, a mais forte opção ao nome de Dilma é o do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em oito anos de governo, Lula
construiu uma sólida relação de confiança com senadores do PMDB como José
Sarney, presidente do Senado, e Renan Calheiros (AL), líder da bancada. A
relação dos dois com Dilma começou fria, mas melhorou agora que a presidente
passou a fazer mais política e afagos ao partido.
Essa relação - PMDB e Dilma - passará por alguns testes, até 2014. Há sempre
um sobressalto. Os pemedebistas identificam no Palácio do Planalto a notícia
segundo a qual Renan foi escolhido relator da MP 579 (que torna mais baratas as
tarifas de energia) como um teste de sua fidelidade ao governo, logo, do apoio
da presidente a sua candidatura a presidente do Senado. Em primeiro lugar, quem
indica o relator é o líder da bancada. Depois, Renan assumiu a tarefa para
atender um pedido do ministro Edison Lobão (Minas e Energia). Aliás, Renan já
advertiu a presidente de que a comissão designada para analisar a MP é dominada
por representantes das indústrias do setor elétrico.
De todos, o teste decisivo será a eleição para as Mesas da Câmara e do
Senado, que por um acordo com o PT devem ficar com o PMDB. Para Renan, a
relatoria da MP 579 e a eleição para a presidência do Senado não têm relação
alguma, assim como não tem relação com a eleição da Câmara, prometida ao líder
Henrique Eduardo Alves (RN) por um acordo assinado entre PT e PMDB. Qualquer
coisa fora desse enquadramento causará problemas graves na relação do maior
partido no Congresso com a presidente da República.
Na conversa que teve com a cúpula do PMDB, no início da semana, a presidente
cortou rispidamente uma fala do presidente em exercício do partido, Valdir
Raupp (RO) sobre a representatividade federativa do ministério. Ele considerou
que Minas Gerais tem pouco espaço no governo, para o que representa para a
federação. Em princípio, parecia a deixa para o partido falar com Dilma sobre o
seu próprio espaço no ministério, que julga desproporcional a seu tamanho. Não
era. O PMDB realmente ainda se julga sub-representado, mas não pretende fazer
cobranças públicas. No máximo numa conversa ao pé do ouvido de Sarney, Renan ou
o vice Michel Temer. Os caciques aprenderam cedo a se relacionar com Dilma: não
adianta tentar emparedar a presidente. Ela reage mal.
O que o PMDB quer é mais um ministério, de preferência um que permita ao
partido "fazer política". Um dos preferidos é o Ministério da
Integração Nacional, atualmente ocupado, curiosamente, por um afilhado político
do governador de Pernambuco, o ministro Fernando Bezerra Coelho. Uma hipótese
levantada dentro do próprio PMDB é que a "lembrança" do nome de
Campos para presidente possa ser apenas pressão - alguns falam de chantagem -
de integrantes da cúpula para a presidente atender melhor o partido, quando
mudar alguns ministros (fontes do PT e do Palácio do Planalto dizem que não
haverá uma reformas, mas mudanças pontuais).
Uma alternativa à Integração Nacional seria o Ministério das Cidades. Na
avaliação do PMDB, a Pasta ser ocupada pelo PP teve sentido quando o
ex-deputado Severino Cavalcanti se elegeu presidente da Câmara e Lula
atravessava a crise do mensalão. Hoje é apenas a quinta bancada na Câmara, com
39 deputados contra os 78 pemedebistas. Certamente, uma saída que atenderia aos
apetites do PMDB.
Fonte: Valor Econômico
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