Dutra diz que é "um constrangimento" falar de colegas envolvidos
no mensalão
Evandro Éboli
BRASÍLIA - Atual presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara e
relator da CPI do Sistema Carcerário (que funcionou de 2008 a 2009), o deputado
petista Domingos Dutra (MA) discorda da posição do ministro José Dias Toffoli
de que só deveriam ir para a cadeia réus que representem perigo para a
sociedade, e que sejam violentos. Sem citar colegas do mensalão, Dutra afirmou
que "grã-finos" corruptos, além de pagar multa e restituir os cofres
públicos, devem cumprir pena de prisão "como os lascados". Ele
acrescentou que é "um constrangimento" falar diretamente dos colegas
do PT envolvidos no mensalão.
- Para mim, tem que se combinar as duas coisas. Aquele que tirou dinheiro
público da boca das crianças (sic) tirou saúde e educação das crianças, tem que
pagar alto e ficar fora da sociedade. Pagar multa, por si só, não é inibidor.
Se ele fica solto, vira indústria. Ele vai recuperar o prejuízo e depois obter
mais lucro - disse Dutra.
O deputado classificou a declaração do ministro da Justiça, Eduardo Cardozo,
sobre a situação dos presídios no Brasil como uma "confissão
corajosa". O ministro, na semana passada, gerou polêmica ao afirmar, no
meio do julgamento do mensalão, que se suicidaria se tivesse que cumprir pena
em penitenciárias do país.
- Parabenizo o ministro pela confissão de responsabilidade do estado
brasileiro pelo inferno carcerário no Brasil. Se a Justiça condenar todos os
políticos acusados de crimes de colarinho branco, teremos, Brasil afora, um
índice de suicídio de autoridades maior que dos índios caiovás - disse o
deputado, em referência à etnia indígena em que é alto o índice de suicídios.
Durante a CPI, Dutra visitou 82 estabelecimentos carcerários em 18 estados:
- Os presídios são o próprio inferno. E lá só tem lascado. E do inferno quem
cuida é o demônio. Não tem como ressocializar ninguém. A lei de execução
penitenciária estabelece que os presos têm que ser separados por idade, por
sexo, por tipo de crime. E isso não existe. É uma salada nos presídios:
primários com reincidentes, presos por pequenos crimes com traficantes.
O deputado criticou a ausência do Estado:
- Na hora que morre parente de alguém, eles (do crime organizado) é que
pagam o caixão. Como a assistência jurídica para pobre quase não existe, o
pessoal do crime paga advogado.
Toffoli disse semana passada que as penas restritivas de liberdade impostas
no julgamento não têm parâmetros contemporâneos. Para ele, o pedagógico é
recuperar os valores desviados e não pôr os condenados na cadeia.
Já condenado, Dirceu passa feriadão à beira da praia
SALVADOR- Um almoço na casa do deputado federal Josias Gomes (PT-BA), no
bairro da Pituba, oferecido pela “velha guarda do PT baiano” encerrou ontem os
dias de sol do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, na Bahia.
Dirceu alugou casa em luxuoso condomínio no litoral Norte de Salvador para
passar o feriadão. Condenado a dez anos e dez meses de prisão pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), Dirceu exibiu boa aparência ao ser flagrado de bermuda
estampada e sem camisa em praia no município de Camaçari.
No almoço de ontem, segundo revelou o anfitrião da comemoração, o deputado
Josias Gomes, o ex-ministro estava com um “ótimo humor”, nada lembrando os dias
tensos do julgamento. — Preparei uma paelha em homenagem à presidente Dilma
Rousseff que está na Espanha. Mas o Zé gostou mesmo foi do bode assado. Até
pediu que mandássemos a carne para ele, em São Paulo — disse o deputado, que é
amigo do ex-ministro desde a fundação do PT.
No seleto grupo que compareceu à casa do parlamentar, estavam o
ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli, hoje secretário do
Planejamento da Bahia; o secretário da Casa Civil do estado, Rui Costa; os
deputados federais, Zezéu Ribeiro e Valmir Assunção; e os deputados estaduais
Luiza Maia, Rosemberg Pinto e Fátima Nunes, todos do PT.
Aos amigos, Dirceu disse considerar “sui generis” que um processo tão
complexo como o do mensalão tenha tido um julgamento tão rápido, num espaço de
apenas quatro meses. — Ele avalia que houve um rito sumário e vai apelar para
todas as instâncias legalmente possíveis — disse Josias Gomes.
Fonte: O Globo
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