Declarada inidônea pela
CGU em meio às investigações do caso Cachoeira, em junho, a Delta é a segunda
empreiteira que mais recebe repasses do governo federal. Até outubro, a empresa
recebeu R$ 341,8 milhões. Ano passado, a Delta faturou com a União R$ 862,4
milhões.
Inidônea, mas
faturando
Mesmo com queda de 60% nos repasses, Delta ainda é a segunda que mais recebe
da União
Fernanda Krakovics
BRASÍLIA - Além da prisão do bicheiro Carlinhos Cachoeira e da cassação do
senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), as investigações do suposto esquema
de corrupção montado pelo contraventor goiano, feitas pela Polícia Federal e
pelo Ministério Público, tiveram pelo menos mais um efeito prático até agora: a
queda de 60% neste ano, até outubro, dos recursos repassados pelo governo
federal para a construtora Delta em relação ao total pago ao longo de 2011.
Mesmo com a redução, a Delta é a segunda empreiteira que mais recebe repasses
do governo federal. De acordo com o Portal da Transparência, a Delta recebeu
até outubro R$ 341,8 milhões do Orçamento da União deste ano, atrás apenas da
Odebrecht, que recebeu, no mesmo período, R$ 795,6 milhões, para a execução de
obras federais. No ano passado, a Delta liderou o ranking das empreiteiras com
contratos com a União, com R$ 862,4 milhões.
Em meio ao escândalo e à divulgação das relações da Delta com Cachoeira, a
Controladoria Geral da União (CGU) declarou a empresa inidônea, em junho.
Assim, a sexta maior empreiteira do país ficou proibida de participar de
licitações e de assinar novos contratos com o poder público. Quanto aos
contratos em andamento, ficou a cargo dos gestores de cada órgão decidir por
sua manutenção ou não.
Logo após a decisão da CGU, a Superintendência do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transporte (Dnit) de Mato Grosso do Sul suspendeu a
assinatura de contrato no valor de R$ 30,9 milhões com a Delta. Ela fora
vencedora na licitação para executar serviço de recuperação e manutenção de
trecho de 108 quilômetros da BR-163 no estado.
O Dnit continua sendo, entretanto, o maior contratante da Delta no governo
federal, tendo repassado neste ano, até outubro, 92% do total recebido pela
empresa - R$ 314,4 milhões. A Delta é responsável por boa parte das obras
rodoviárias do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A assessoria de
imprensa do Dnit afirmou ontem que o órgão não rescindiu contratos para não
paralisar obras.
Ainda de acordo com a assessoria de imprensa do Dnit, 99 contratos com a
Delta estavam em andamento quando a empresa foi considerada inidônea, e agora
há cerca de 40, a maioria de manutenção de rodovias. Os contratos não podem ser
renovados. Nem podem ser firmados novos.
Entre os contratos ativos do governo federal com a Delta estão o de
duplicação e restauração da BR-101, em Sergipe, e o de pavimentação e melhorias
do traçado da BR-110, no Rio Grande do Norte.
Mesmo antes de a Delta ser declarada inidônea, a Petrobras rescindiu em maio
contratos de R$ 843,5 milhões que mantinha com dois consórcios nos quais a
construtora participava e que eram responsáveis por obras no Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). A Petrobras afirmou que a rescisão
foi motivada por "baixo desempenho" da empresa.
No epicentro do escândalo Cachoeira, a própria Delta decidiu, também em
maio, sair do consórcio de empresas que faz a reforma do Maracanã. A
construtora deixou ainda o consórcio responsável pelo projeto da Transcarioca
(corredor expresso de ônibus), que ligará a Barra da Tijuca à Ilha do
Governador.
Em 2011, a empresa de Fernando Cavendish recebeu do governo do Rio R$ 358,5
milhões, dos quais R$ 72,7 milhões (20%) sem passar por concorrência pública.
Desde 2007, a Delta possui no Estado do Rio cerca de R$ 1,5 bilhão em
contratos.
Já no plano federal, a empresa também decidiu sair do consórcio para a
construção de um trecho da Ferrovia Oeste-Leste, principal contrato que
mantinha no PAC, no valor de R$ 574 milhões. A Delta decidiu sair das grandes
obras porque estava com dificuldade para captar recursos após o escândalo que
revelou seus negócios com Cachoeira.
A principal ligação da Delta com o grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira era
mantida pelo ex-diretor do escritório da empresa no Centro-Oeste Cláudio Abreu,
que chegou a ser preso em abril. De acordo com as investigações da Operação
Saint Michel, uma parceria do Ministério Público e da Polícia Federal, Abreu é
suspeito de corrupção e formação de quadrilha, principalmente em Goiás.
Ele foi demitido pela Delta nacional após as revelações. Abreu foi um dos
depoentes da CPI Mista do Cachoeira que ficaram em silêncio, amparado por
liminar da Justiça.
Fonte: O Globo
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