Julgamento no STF foi interrompido para tratamento de saúde do relator Joaquim
Barbosa há duas semanas
Tribunal só estabeleceu até agora penas para Marcos Valério, o operador do
esquema, e um dos seus ex-sócios
SÃO PAULO - O STF (Supremo Tribunal Federal) retoma na próxima quarta-feira
o julgamento do mensalão em meio às incertezas criadas pelas ameaças do
empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, que se diz disposto a fazer novas
revelações sobre o esquema.
O julgamento chegou à fase final, em que os ministros do STF vão definir as
penas de cada um dos 25 réus condenados. Ele foi interrompido há duas semanas
porque o ministro Joaquim Barbosa, relator do caso, teve que viajar para
tratamento de saúde.
Segundo reportagens publicadas nos últimos dias pelo jornal "O Estado
de S. Paulo" e pela revista "Veja", Valério indicou aos
ministros do Supremo e ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que
irá incriminar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se for chamado para
prestar novo depoimento.
Segundo a revista "Veja", Valério diz que os petistas lhe pediram
ajuda em 2003 para silenciar um empresário de Santo André que estaria
chantageando Lula e seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, que hoje chefia a
Secretaria-Geral da República.
De acordo com o relato da revista, o então secretário-geral do PT, Silvio
Pereira, pediu a Valério dinheiro para conter o empresário Ronan Maria Pinto,
que teria ameaçado implicar Lula e seu auxiliar na morte do prefeito petista de
Santo André, Celso Daniel, assassinado em 2002.
Valério diz que se recusou a colaborar e que um banco arranjou o dinheiro
para os petistas, segundo a revista. Ontem, o jornal "O Estado de S.
Paulo" afirmou que, em depoimento à Procuradoria-Geral da República em
setembro, Valério disse que pagou o empresário de Santo André.
Contradição
Só um novo depoimento poderia esclarecer a contradição entre as declarações
atribuídas a Valério. Ministros do STF e o procurador Gurgel deixaram claro que
só examinarão a conveniência de abrir um novo inquérito sobre o caso depois que
o julgamento em curso terminar.
Silvio Pereira disse à Folha que a versão atribuída a Valério é "puro
delírio". Gilberto Carvalho afirmou que desconhece
"completamente" o assunto e nunca teve contato com Valério. A
assessoria de Ronan disse que a história é "absurda" e que ele não
conhece e nunca se encontrou com o operador do mensalão.
O Supremo já definiu que Marcos Valério terá que cumprir mais de 40 anos de
prisão pelos cinco crimes pelos quais foi condenado, corrupção ativa, formação
de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
A pena definida para um dos ex-sócios do empresário, o publicitário Ramon
Hollerbach, já soma mais de 14 anos de prisão, mas o julgamento foi
interrompido antes que os ministros estabelecessem a punição para dois dos
cinco crimes pelos quais Hollerbach foi condenado no tribunal.
O julgamento começou há três meses e é o mais complexo da história do STF.
Depois que as penas dos condenados forem fixadas, os ministros terão de redigir
o acórdão em que serão resumidas as conclusões do julgamento.
Só depois disso é que o tribunal poderá expedir as ordens de prisão dos
condenados. O mais provável é que isso só ocorra no primeiro semestre do
próximo ano.
Fonte: Folha de S. Paulo
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