Partido se divide sobre necessidade de investir em novos nomes na política
Julia Duailibi
O debate sobre renovação partidária no PSDB, que surgiu na esteira de sua derrota
na disputa pela Prefeitura de São Paulo, está longe de ser ponto pacífico no
partido e hoje se baseia, principalmente, na emancipação de novos
representantes de antigas dinastias políticas.
Dividido desde a derrota presidencial de 2010, o PSDB esbarra em
dificuldades para unificar o debate. Há quem defenda espaço para novas
gerações. Há quem diga que não é uma questão geracional, mas de ideias.
"Para mim, a questão da renovação está muito mais ligada às ideias do que
à certidão de nascimento", disse o deputado Vaz de Lima, aliado do
candidato derrotado do PSDB à Prefeitura, José Serra. "O que define o novo
não é uma categoria. Nada mais velho que o novo do PT. É uma questão
"a-histórica" e, portanto, apolítica", afirma o senador Aloysio
Nunes Ferreira (SP).
A discussão deixa evidente a divisão no PSDB entre os que querem o
enfraquecimento do eixo paulista e o surgimento de uma nova hegemonia de poder,
com maior participação do Norte e Nordeste, onde o presidenciável Aécio Neves
(MG) costura parte do seu prestígio interno.
No último domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro
a defender renovação: "O momento é de mudança de gerações. Isso não quer
dizer que os antigos líderes vão desaparecer. Eles têm apenas que empurrar os
novos para a frente". Aécio também falou em espaço para a nova geração
como forma de "fortalecer o PSDB".
Serra não gostou das declarações que relacionavam a derrota à questão
geracional. Procurou tucanos para dizer que a tese da renovação era "pauta
petista".
De olho no eleitor de classe média, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva foi um dos principais defensores da renovação ao lançar Haddad contra a
veterana Marta Suplicy. O escândalo do mensalão também impulsionou a renovação
no partido ao atingir uma geração do PT paulista, com José Dirceu e José
Genoino.
"O partido é um órgão burocrático. E a tendência é que esses grupos que
se consolidam no poder impeçam a mudança", disse o professor Thadeu
Brandão, da Universidade Federal Rural do Semiárido, que fez um estudo sobre o
enfraquecimento do PSDB no Rio Grande do Norte.
Para o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), "o caminho de
renovação é sem volta". "Mas não é necessariamente etária. O partido
se renova com a reinserção de Artur Virgílio em Manaus, que tem uma forma
moderna de se comunicar", disse.
No PSDB, desde 1996 Serra e o governador Geraldo Alckmin se revezam como
candidatos a prefeito paulistano. "O partido se tornou muito dependente de
dois nomes. Não é culpa deles. Mas do partido", disse o vereador eleito
Mario Covas Neto. "Partido tem que discutir o que quer. Talvez por meio de
uma reforma do programa, de um congresso ou um seminário. O importante é ter
discurso. E é isso que perdemos. Estamos sem rumo."
"Novos" líderes. Hoje, as lideranças citadas pela cúpula
partidária são invariavelmente descendentes de políticos conhecidos. É o caso
de Bruno Covas, citado como a nova geração de tucanos paulistas, neto do
governador Mario Covas. Ou do prefeito eleito de Maceió, Rui Palmeira, filho de
Guilherme Palmeira, ex-governador de Alagoas.
Na corrida pela novidade, integrantes do partido falam até no nome do
apresentador Luciano Huck, amigo de Aécio e de FHC, que poderia disputar o
Senado em 2018. O apresentador diz que, no momento, não tem interesse em
ingressar na política.
"É preciso haver uma renovação. Isso é um processo permanente.
Significa trazer gente que está defendendo novos pontos de vista, gente que
está redefinindo quais são os problemas da sociedade", disse o doutor em
ciência política Luis Aureliano Gama de Andrade, professor das faculdades Pedro
Leopoldo (MG).
"A defesa da renovação é o discurso mais velho da política. É
impossível renovar por decreto. Isso não se impõe. Se conquista. É um processo
natural e espontâneo", declarou o líder do partido no Senado, Álvaro Dias
(PR), que defende a prévia para escolha do candidato a presidente como forma de
fortalecer a sigla.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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