quinta-feira, 18 de julho de 2013

Atrás de uma vaga na urna eletrônica

Pedro Venceslau, Ricardo Chapola

A queda da popularidade de Dilma Rousseff após as manifestações de junho reacendeu o desejo de José Serra de disputar a Presidência da República, algo que ele já tentou sem sucesso em 2002 e 2010. O ex-governador paulista, no entanto, recebeu do PSDB, seu partido, sinais de que só há espaço para ele em 2014 em dois cenários: disputar uma vaga na Câmara dos Deputados ou no Senado.

A saída mais provável caso queira tocar seu projeto presidencial é a filiação ao PPS do deputado Roberto Freire, que já abriu publicamente as portas da legenda para o tucano.

Nesse cenário, a prioridade de Serra passaria a ser uma aliança com o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, o que daria à sua candidatura maior poder de fogo - leia-se tempo de TV. A união de PPS com PSD renderia 1 minuto e 55 segundos na propaganda eleitoral O PSDB do senador Aécio Neves tem, sozinho, 1 minuto e 43 segundos; o PT, 2 minutos e 49 segundos; e o PP, um dos partidos mais procurados por causa de seu tempo de TV, 1 minuto e 19 segundos.

"Ele (Serra) está animado. Com a crise econômica e os protestos, o nome dele reúne o que se tem melhor: um economista que é um bom executivo", diz Roberto Freire.

Remanescentes do grupo "serrista" e amigos dele ouvidos pelo Estado dizem que o ex-governador não conseguiria levar muitos tucanos consigo. O fracasso da fusão entre o PPS e o PMN frustrou a construção de uma "janela da infidelidade" oposicionista. Assim como ocorreu com o PSD de Kassab no lado governista, o movimento permitiria uma migração de parlamentares insatisfeitos com o governo Dilma.

Ex-presidente do PSDB - cargo hoje ocupado por Aécio -, o deputado Sérgio Guerra duvida, porém, que Serra venha a deixar o partido. "Nunca trabalhei com esse hipótese e continuo não trabalhando", afirma.

O ex-governador tem uma reunião marcada com dirigentes do PSDB paulista amanhã. Uma pesquisa encomendada pelo partido no fim de junho tem sido usada por Serra como argumento de que ele ainda é uma forte alternativa. De acordo com aliados, ele aparece bem no Sul e no Centro-Oeste.

Líderes tucanos, porém, dizem que a chance de ele conseguir emplacar uma prévia interna contra Aécio é zero. O sonho dos tucanos paulistas é que o ex-governador aceite disputar uma vaga de deputado federal. Com isso, o partido resolveria dois problemas: elegeria uma grande bancada na Câmara e deixaria a vaga no Senado para um partido aliado na chapa do governador Geraldo Alckmin, que disputará a reeleição.

Uma terceira via para Serra seria se filiar ao PSD. Kassab ganhou projeção após ser alçado à condição de prefeito por Serra, de quem era vice. Depois, conseguiu se manter no cargo vencendo uma eleição contra Marta Suplicy (PT) na qual utilizou todo o staff de Serra. Na sucessão municipal de 2012, Kassab apoiou o ex-governador na sua tentativa frustrada de voltar à Prefeitura.

Hoje, porém, Kassab diz informalmente nas rodas políticas que já pagou a dívida com seu padrinho político. Sinaliza, com isso, que pretende manter um pé no governo Dilma.

Até hoje, Kassab não declarou apoio formal à petista, mas seu partido conta com um ministério - nas mãos de Guilherme Afif Domingos - e costuma se alinhar à base governista.

O ex-prefeito já deu declarações públicas, feitas antes dos protestos de junho, que indicavam apoio à reeleição de Dilma.

Ex- líder do PSD na Câmara, o deputado Guilherme Campos diz que Serra é um nome "forte" na política e que não se assustaria se Kassab apoiasse Serra em uma eventual candidatura à Presidência. "Kassab e Serra sempre tiveram conversas", disse. Ele alimenta a especulação ao afirmar que o PSD é um partido independente. "Apesar de estar alojado no governo Dilma, o partido não compõe a base aliada."

Outros parlamentares do PSD dizem nos bastidores que a aproximação de Serra com o partido interessa apenas ao tucano, tanto nas disputas internas tucanas como fora delas. Tucanos também avaliam que Serra tem mais a ganhar do que Kassab numa eventual parceria para a eleição de 2014.

Entre os petistas, a candidatura de Serra é tratada como um fato concreto, seja pelo PPS, seja pelo PSD. A tese é que ela seria boa para toda a oposição, pois forçaria um segundo turno.

Ritual. Um tucano que é amigo de Serra lembra que a indecisão do ex-governador faz parte de um "ritual" repetido em todas as eleições, independentemente do cenário ser favorável ou não. Depois de uma temporada de isolamento, ele ressurge nos bastidores para testar opções de tabuleiro. E só decide aos "45 minutos do segundo tempo".

Na terça-feira passada, Serra fez uma aparição relâmpago em Brasília, onde se encontrou com os senadores Pedro Taques (PDT-MT) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Taques disse que foi uma conversa informal, na qual trataram apenas sobre os protestos, a situação econômica e a queda de popularidade de Dilma.

Ontem, via Twitter, após informar aos seus seguidores de que conversou com os parlamentares, o ex-governador disse que falta liderança no País. "No Brasil de hoje falta liderança e sobram desperdícios, de recursos, de talentos e de tempo", escreveu.

O nome de Serra não tem aparecido nas recentes pesquisas estimuladas - quando o entrevistado escolhe entre nomes definidos. No levantamento do instituto MDA divulgado anteontem pela Confederação Nacional dos Transportes, ele aparece com 1,2% na pergunta espontânea, quando o entrevistado não é submetido a uma lista prévia.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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