PMDB quer aumentar sua fatia no governo, e PT espera enxugamento da equipe já no recesso do Congresso
Maria Lima, Gabriela Valente e Fernanda Krakovics
BRASÍLIA - A recomposição ministerial cobrada pelo ex-presidente Lula em encontro recente com a presidente Dilma Rousseff foi um dos assuntos do jantar de terça-feira da bancada do PMDB, promovido pelo presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN). Certos de que, neste momento de fragilização do governo, só há dois caminhos, romper ou ocupar mais espaço, os peemedebistas pressionam por uma reforma ministerial e esperam um desfecho para os próximos dias.
Dilma também está sendo pressionada pelo PT a fazer a reforma e enxugar sua equipe já durante o recesso parlamentar, que começa hoje e vai até o fim do mês.
Líderes e liderados do PMDB expressam tudo que desejam no primeiro escalão de Dilma, já comprando de cara uma briga com o PT na disputa pelo lugar de Ideli Salvatti. Apostam, e vendem essa ideia a interlocutores do governo, que um nome do PMDB na articulação política teria mais capacidade de unir a base aliada neste momento. Mas a direção do PT também já está em campo e quer colocar na vaga de Ideli o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP).
Ministro da Previdência e depois do Trabalho no governo Lula, Berzoini participou de reunião com o ex-presidente, segunda-feira, em São Paulo. Em reunião de Dilma com a coordenação da bancada do PT na Câmara, no início do mês, Berzoini foi um dos mais enfáticos na crítica à articulação política do governo.
Se houver um enxugamento do número de ministérios, com a junção de pastas do PMDB no Ministério dos Transportes, por exemplo, criando um "blocão de infraestrutura", o partido vai brigar para indicar o comando da nova pasta, hoje ocupada por Cesar Borges, do PR.
Na viagem-relâmpago e reservada a Brasília, semana passada, Lula também se reuniu com o vice-presidente Michel Temer, quando manifestou preocupação com a permanência do PMDB na aliança governista e pediu que ele ajudasse a reorganizar a base. Mas Dilma resiste em reorganizar as forças políticas na Esplanada. No jantar da bancada, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), adiantou a coleta de assinaturas para apresentação de uma PEC que coloca na Constituição o número-limite de 20 ministérios. De público, os peemedebistas evitam falar do assunto.
- O PMDB está esperando que a presidente se mexa e faça a reforma ministerial. Por estar num momento de fragilidade, precisando do PMDB, talvez esse seja o momento de o partido efetivamente entrar no governo. Se ela não fizer isso, a tendência é que seja largada. Se você perguntar hoje aos deputados: me dê uma razão para continuar votando com o governo? Ninguém tem - disse um cacique peemedebista presente ao jantar.
Gleisi Hoffmann no Senado
Depois de ter participado do jantar, Temer se reuniu ontem cedo com Dilma. À noite, voltou a se encontrar, na casa de Henrique, com lideranças do partido.
Os políticos alimentam expectativa de mudanças no Ministério durante o recesso branco e já adiantam especulações de todo tipo. Uma delas é em relação a Ideli, que, sem mandato, seria deslocada para o Ministério da Cultura, seu objeto de desejo desde sempre. A ministra Marta Suplicy finalmente chegaria ao Ministério da Educação; Aloizio Mercadante assumiria, de fato, a Casa Civil; Gleisi Hoffmann voltaria para o Senado, para organizar sua candidatura ao governo do Paraná e tentar reforçar a fraca articulação política na Casa; a Secretaria da Pesca seria fundida com o Ministério da Agricultura, e Marcelo Crivella (PRB) também voltaria para o Senado.
- A Ideli tem feito um esforço muito grande para resolver os problemas, dentro de suas limitações. Se botar o Papa Francisco no seu lugar, sem poder, vai continuar sem resolver - diz o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), explicando que não adianta mudança se quem entrar não tiver autonomia para decidir sem os entraves colocados por Dilma e Gleisi.
Na tentativa de corrigir o rumo, chegou a ser negociada a ida do ex-deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS) para a equipe da ministra Ideli Salvatti, como assessor. O vice-presidente Michel Temer fez a sondagem, mas o peemedebista não aceitou. Embora apoie o governo Dilma, Padilha, historicamente, é aliado do tucano José Serra.
No PMDB, a preocupação é com o ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Moreira Franco. Um dos desenhos prevê a ida da SAC e da Secretaria dos Portos para o Ministério dos Transportes. Aí seria criado um superministério da Infraestrutura. Nesse caso, o PMDB reivindica o direito de indicar o titular, no lugar de Cesar Borges.
Até Itamaraty mudaria
Em outra projeção, as secretarias de Direitos Humanos, de Maria do Rosário, e das Mulheres, de Eleonora Menicucci, iriam para o guarda-chuva da Secretaria Geral, comandada por Gilberto Carvalho.
Para driblar a falta de credibilidade da atual equipe econômica, Dilma resiste, mas as cobranças são cada vez maiores, a substituir o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O problema é que a presidente não vislumbra nomes que justifiquem a troca. Chegaram a falar na volta do ex-ministro Antonio Palocci, o que foi logo descartado.
Numa reforma ministerial, também seria trocado o ministro das Relações Exteriores. A presidente estaria insatisfeita com Antonio Patriota, que, por algumas vezes, é pego de surpresa quando questionado sobre acontecimentos que envolvem sua pasta. Em dois exemplos recentes, teria tirado a presidente do sério: a espionagem dos brasileiros pelos Estados Unidos e o caso do avião de Evo Morales. Segundo uma fonte do governo, este foi um dos motivos da demora de o Brasil se posicionar sobre a proibição ao avião do presidente da Bolívia de sobrevoar alguns países europeus.
Fonte: O Globo
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