Após o recesso parlamentar dos últimos 15 dias de julho se desencadeará, ostensivamente, intensa movimentação dos diversos atores significativos da cena política. Com efeitos que, combinados aos das implicações também relevantes da economia, condicionarão em grau decisivo o cenário eleitoral de 2014, na disputa maior do Palácio do Planalto, nos pleitos estaduais de maior peso, na correlação de forças partidárias no próximo Congresso. Condicionamento gerado pela antecipação dessa disputa já no início deste ano (por iniciativa do ex-presidente Lula, da qual agora deve estar arrependido) e acentuado pelo impacto das grandes manifestações sociais de junho na virada da avaliação popular da chefe de governo e candidata Dilma Rousseff e do seu relacionamento com o Legislativo.
A primeira dessas duas dimensões de tal impacto pôs em xeque o favoritismo reeleitoral da presidente e a aposta do lulopetismo numa vitória no primeiro turno (com o respaldo de amplíssima aliança partidária e o estreitamento da disputa a um confronto sério apenas com o candidato do PSDB, Aécio Neves). Ela também abre a possibilidade – como alternativa a uma reafirmação do governo e uma retomada da competitividade da candidata oficial, ambas possíveis mas crescentemente incertas – da troca da reeleição pela candidatura do ex-presidente Lula.
Na sequencia da Jornada Mundial da Juventude, com a participação do papa Francisco (evento socialmente importante mas de difícil instrumentalização partidária), a agenda dos fatos políticos e institucionais dos últimos cinco meses do ano incluirá a proposta do Legislativo de mudança de regras eleitorais; a apreciação de vetos presidenciais a projetos aprovados pelo Congresso (no novo contexto de virtual desmonte da base governista na Câmara); o fe-cho do processo do mensalão pelo STF (com mu-dança ou redução das penas praticamente inviabilizadas pelas manifestações de junho); a reversão, ou não, do baque na popularidade de Dilma; a confirmação, ou não, da candidatura dissidente de Eduardo Campos; a viabilização, ou não, da Rede de Sustentabilidade como fator de uma candidatura competitiva de Marina Silva. E esses fatos serão fortemente influenciados pelo desempenho da economia, até agora com projeções e indicadores muito negativos.
A busca de recuperação do seu governo e de avaliação social positiva explica a intensa, frenética, presença da presidente na mídia – das propostas de plebiscito, logo rechaçadas política e institucionalmente, ao lançamento do programa Mais Médicos, rejeitado pelos profissionais e estudantes da área. Passando pela combinação das promessas de ajuste fiscal e de mais investimentos com a continuidade do gigantismo da máquina federal e o aumento de gastos assistencialistas. Bem como pela insistência em atribuir ao Congresso a responsabilidade maior pelas distorções políticas e gerenciais destacadas nas manifestações de rua – a corrupção e a precariedade dos serviços públicos. Tudo isso, porém, sem nenhum efeito na recuperação da popularidade perdida, como indicou pesquisa da CNT, feita pelo Instituto MDA entre os dias 4 e 10 de julho e divulgada ontem. Pesquisa que, certamente, re-forçará o “Volta Lula” no PT e em ouras áreas da esquerda lulista.
Pesquisa que também, embora sem a credibilidade e a repercussão das do Datafolha e do Ibope, mostra que o tucano Aécio Neves em nada se beneficiou das referidas manifestações sociais, que favoreceram Marina Silva. E outra novidade negativa para Aécio é a retomada pelo PPS da proposta de uma candidatura de José Serra. A qual, segundo o colunista do Valor, Raymundo Costa, em artigo de ontem, representaria para a campanha de Aécio o que a de Eduardo Campos constitui hoje para a de Dilma – divisão do próprio campo, no caso de Serra do polo oposicionista.
Jarbas de Holanda, jornalista
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