Em debate sobre reforma política, ex-ministra afirmou que já previa as manifestações que ocorrem em cidades do País desde o mês passado
Carla Araújo
SÃO PAULO - A ex-ministra Marina Silva afirmou nesta quarta-feira, 17, que já previa as manifestações que ocorreram em cidades do País todo no mês passado. "Se eu digo que eu fiquei surpresa, estaria mentindo. Se digo já sabia, pareço pretensiosa. Mas eu prefiro ser uma pretensiosa injustiçada", disse, ao participar do debate sobre reforma do sistema político promovido pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), em São Paulo.
Marina disse que há pelo menos três anos vem dizendo que havia essa "borda encapsulada no Brasil". "E acontece em todas as partes do mundo", completou. "Eu acho que esse desconforto da presidente (Dilma Rousseff) com as manifestações seria menor se ela entendesse que esse é um espírito de uma época", afirmou.
Para a ex-ministra, é preciso saber aproveitar melhor essa "energia que vem das ruas". "O que as pessoas estão dizendo é que elas querem um mundo melhor", disse. Marina destacou ainda que foi muito significativo as manifestações começarem na época da Copa das Confederações. "É um avanço de consciência política muito importante." A consolidação desse movimento, destacou a ex-ministra, aponta para o surgimento de um novo sujeito político, "que não pode ser resumido a uma pauta de reivindicações", disse, citando as manifestações das centrais sindicais.
De acordo com Marina, só será possível atender a esse novo sujeito político com a criação de uma agenda estratégica no País. "A ideia da reforma política é correta, mas ela virou uma mini reforma", disse, criticando a não indicação de Henrique Fontana (PT-RS) para presidir o grupo de trabalho que vai elaborar uma proposta de reforma política. O coordenador do grupo é o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), indicado pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O deputado gaúcho foi relator da última proposta de reforma política que tramitou na Casa.
Marina reforçou que esse processo de manifestações não deve desaparecer porque "alguém resolveu colocar um mecanismo de freio", disse. "As pessoas que se movem têm ideal da causa e tem algo novo, que é o componente do prazer, de algo vivencial, elas estão emprestando seus corpos e falas para esse movimento."
Debate. Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Arte ECA/USP, presente no debate, fez críticas à resposta da presidente Dilma às manifestações. Segundo ele, o primeiro pronunciamento de Dilma em cadeia nacional reforçou que "há uma fragilidade maior do que supúnhamos no centro político do País." "A presidente vinha há dois anos tentando se alicerçar na aliança com o PMDB, no próprio PT e no ex-presidente Lula", disse. Segundo ele, ficou claro que falta a Dilma uma base de autoridade natural. "Ela teve uma entrada artificial no poder, que agora cobrou o seu preço", afirmou.
Além da ex-ministra e de Bucci, participaram do evento o presidente do Conselho Diretor do IDS, João Paulo Capobianco, Carlos Nepomuceno, jornalista e doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense, José Moroni, filósofo e membro do colegiado de gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos, e Vladimir Safatle, professor da USP e doutor em filosofia.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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