A uma nova melhora nos índices de aprovação do governo, já admitida até pelos adversários, não deverá corresponder a redução das tensões com o Congresso, hoje praticamente circunscritas à base de sustentação da presidente Dilma Rousseff.
A recuperação da presidente nas pesquisas deve continuar, mas não se acredita que ela volte algum dia ao patamar já desfrutado, que lhe dotou de um capital político tão invejável quanto mal utilizado.
A presidente está politicamente viva, mas condenada a ocupar toda a sua agenda, daqui em diante, na construção de pontes com o Legislativo e com o mercado, e na aproximação com a sociedade.
A antecipação do calendário eleitoral, por iniciativa do próprio governo, gerou estratégias na base aliada e na oposição que têm na conveniência de manter a presidente sob pressão seu ponto comum. Já em disputa eleitoral com o PT, o PMDB dosa essa pressão, como atesta a seletividade de suas ações no Congresso, impondo derrotas políticas ao governo, mas poupando-o de danos que posam inviabilizá-lo.
A aprovação do Orçamento impositivo, que poderia teoricamente desmentir o raciocínio, tem baixo impacto, porque previne abusos dos parlamentares ao preservar o recurso do governo ao contingenciamento em casos "técnicos" e aos restos a pagar de orçamentos anteriores por dois anos. O que torna político o efeito da mudança, que inverte o processo de negociação entre Planalto e Congresso.
Os vetos em pauta para votação também seguem essa linha política, como prova a decisão de preservar o que mantém a multa de 10% sobre o FGTS para os empregadores, capaz de subtrair até R$ de 10 bilhões ao governo (cálculos do PMDB), e a provável derrubada do que mantém o poder da União para desonerações com impacto fiscal nos Estados.
Para a oposição, o limite desejável para a queda da presidente é o que pode determinar o retorno do ex-presidente Lula que pelas pesquisas venceria hoje no primeiro turno. Se Dilma ficar abaixo do patamar seguro para o projeto de reeleição, essa hipótese vira realidade. O que pode explicar o tom moderado dos seus oponentes até aqui.
Ao PSDB convém um número maior de candidatos para garantir o segundo turno, o que o leva a precisar da consolidação de Marina Silva, da preservação de Eduardo Campos e da viabilidade de Dilma. Sem essa última, todos os cenários que orientam hoje as ações políticas mudam, a começar pelas alianças.
A negociação política entrou na agenda da presidente para ficar, após a queda na aprovação. A perda da confiança da população foi o cristal que se quebrou. Depois disso, nada será como antes.
Pacto
A cúpula do PT dá como certa a candidatura do Eduardo Campos, mas com um pacto de não agressão fechado com Lula. Se Dilma chegar ao segundo turno, ele a apoiaria e garantiria o recall para 2018
Alianças
Michel Temer e o presidente do PT Rui Falcão, retomam as negociações das alianças estaduais a partir de amanhã. A rodada se estende até a reunião da Executiva do PMDB, dias 28 e 29 próximos.
Pernambuco
O PMDB tenta palanque para Dilma em Pernambuco. Se não der com Jarbas Vasconcelos, fechado com Eduardo Campos vai com o prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio.
No portal
Blog Propaganda irrita setor produtivo e questiona apoio do BNDS à JBS
Fonte: O Estado de S. Paulo
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