Baixa liberação de emendas contribuiu para agravar descontentamento
BRASÍLIA - Em março do ano passado, quando surfava em uma avaliação positiva de 64%, a presidente Dilma Rousseff fez uma troca dupla de seus líderes na Câmara e no Senado. Responsáveis pela condução da pauta do governo desde o governo Lula, o deputado Cândido Vaccarezza (PT) e o senador Romero Jucá (PMDB) tinham amplo trânsito nas mais diversas legendas, inclusive na oposição, e conhecimento dos meandros de funcionamento da Câmara e do Senado.
No lugar deles foram colocados o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que apesar de experiente tem menos trânsito fora do PT, e o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que tinha recém-completado um ano no Senado e bradava aos quatro ventos sua insatisfação com a Casa.
Sem representação nem controle dos Plenários da Câmara e do Senado, os dois pioraram uma situação que já se desgastava. Tanto Jucá quanto Vaccarezza caíram após duas derrotas sentidas pessoalmente pela presidente: a aprovação do Código Florestal e a rejeição de Bernardo Figueiredo para a diretoria geral da ANTT. Dilma achou que o problema estava no mensageiro e não percebeu o grau de conflagração que se espalhava pela base.
Insatisfação alimentada pela dificuldade dos parlamentares em serem recebidos por ministros, de influenciarem nas nomeações em seus estados e, sobretudo, de liberarem suas emendas ao Orçamento. Além disso, a maioria dos atuais ministros políticos têm pouca representatividade nas bancadas e já não podem mais atuar como propulsores de votos a favor do governo, especialmente na Câmara.
Correlação de forças mudará
Para completar, a dificuldade do governo em apresentar resultados de suas realizações, especialmente nos projetos de infraestrutura, deram discurso inclusive aos parlamentares que integravam a base, mas de perfil mais independentes. Para o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), um desses, a correlação de forças entre o governo e Congresso será alterada de fato a partir das próximas semanas com a aprovação do chamado orçamento impositivo e a apreciação de vetos presidenciais.
- Isso vai mudar a correlação de forças. Precisamos de uma revolução, a revolução do cumpra-se (o que está escrito na Constituição, como no caso da apreciação dos vetos). Fazer política não é só receber pessoas, é mostrar realizações com um prazo razoável e custo justo. O que determina é a boa gestão, o bom projeto - disse Miro. (P.C.P. e C.J.)
Fonte: O Globo
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