Segundo parlamentares, queda da popularidade de Dilma foi apenas a gota d"água para crise que se avizinha
Paulo Celso Pereira, Cristiane Jungblut
BRASÍLIA - A derrota do governo semana passada no Congresso e a iminência de ocorrerem outras nas próximas semanas não se deve exclusivamente à queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff nas mais recentes pesquisas de opinião pública. Na avaliação de parlamentares dos mais diversos partidos, a crise que se avizinha foi construída dia após dia ao longo dos 30 primeiros meses do mandato da presidente. A recente queda de popularidade é vista por eles apenas como a faísca que faltava.
Entre os muitos motivos enumerados por parlamentares e líderes partidários estão uma postura de isolamento em relação ao Congresso - especialmente da Câmara -, a escolha de nomes sem trânsito no meio político como representantes do Palácio nas negociações e o esvaziamento dos líderes que até então mantinham o controle dos partidos da base aliada, que era a maior de um presidente desde a redemocratização.
- O que houve foi muita distância e falta de interlocução. Nos governos passados havia pessoas que conversavam com o Congresso. Hoje, temos uma ministra da Articulação Política (Ideli Salvatti) que não tem autoridade com o resto do governo e os líderes têm dificuldade de negociar acordos porque o Palácio não cumpre. Hoje não existe nenhum partido satisfeito com o governo, nem o PT. Não é apenas o orçamento impositivo que aprovamos. Hoje, o governo não ganha nenhuma votação no Congresso - diz o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI).
Aliados dizem que, apesar de a presidente ter tentado nas últimas semanas mudar o conflituoso relacionamento com o Congresso, em reuniões com a base aliada, o governo segue cometendo erros diários de avaliação política, como não negociar os textos que são votados em Plenário e apostar tudo nos vetos, que agora correm o risco de serem derrubados, e na judicialização. Um líder da base compara:
- O governo está como o alcoólatra que acorda de ressaca e jura que nunca mais vai beber. Mas chega no dia seguinte e bebe de novo.
Na última semana, alguns desses erros voltaram a se repetir, quando o governo não concordou em ceder em pontos do orçamento impositivo. Nas negociações, tentou emparedar líderes da Câmara, afirmando já ter acordo no Senado. Acabou derrotado. Por fim, avisou que entraria na Justiça contra a emenda.
- Se o governo for à Justiça contra o orçamento impositivo, vai sofrer derrota toda semana. Negociar não é só ouvir o outro lado, mas ceder e acatar as sugestões - alerta um peemedebista.
- Desaguou agora porque nunca houve relação. Um casal separado que só se junta por causa dos filhos não tem como ter uma relação boa. Os interlocutores do Palácio e o fato de a base ser heterogênea são os maiores problemas - aponta o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).
Fonte: O Globo
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