A primeira pesquisa (do Datafolha) depois da surpreendente reentrada de Marina Silva no processo da disputa presidencial reforçou os nomes dos concorrentes básicos já definidos, Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos (que terão certamente a companhia de um ou mais “anões”). Os 42% de intenção de votos obtida por ela, o avanço para 21% da de Aécio e o salto para 15% da registrada em favor de Campos apontam para a consolidação dos três presidenciáveis. Com a hipótese, possível, de mudança desse quadro só bem mais à frente lá pelo segundo trimestre de 2014 às vésperas das convenções partidárias. Isso na hipótese de desdobramentos econômicos, sociais e políticos que forcem troca de candidaturas. No campo governista, a substituição de Dilma por Lula diante da afirmação do cenário de um 2º turno; na área da dissidência, com a de Campos pela de Marina se só ela mostrar então ter competitividade; na oposição, se a de Aécio esvaziar-se e persistir o recall de José Serra.
O “retrocesso” na economia. Marina Silva manteve-se nas manchetes por meio de duros ataques às gestões do PT na presidência da República – no segundo mandato de Lula e no de Dilma Rousseff -, responsabilizando-as por um progressivo desmonte da estabilidade macroeconômica do país. Já feitos num encontro de Marina com empresários no final da semana passada em São Paulo, esses ataques foram reiterados em conferência que proferiu anteontem no Recife (na Universidade Federal de Pernambuco). Trechos da reportagem do Valor, a respeito: “A negligência e a ansiedade política do governo da presidente Dilma Rousseff fragilizaram o tripé que foi responsável pela estabilidade da economia e pela inclusão social das últimas décadas”. “A ex-senadora também criticou o pouco compromisso do governo com a inflação, a política de desonerações fiscais e o papel dado ao BNDES na criação das chamadas gigantes nacionais. Sobrou até para o empresário Eike Batista, cujos empréstimos junto ao banco federal foram, segundo ela, “para a lata do lixo”. Nas respostas, também duras, a presidente começou com sua postura professoral: “Acredito que as pessoas que querem concorrer ao cargo têm de se preparar, estudar muito, ver quais são os problemas do Brasil, ter propostas”.
A ênfase de Marina em forte diagnóstico crítico da política econômica do Palácio do Planalto, semelhante ao da grande maioria dos analistas do mercado, tem como primeiro objetivo compensar as reações contrárias de vários segmentos do empresariado às declarações hostis a lideranças do agronegócio formuladas por ela logo após sua filiação ao PSB. Mas são parte de um plano maior, tecido com Eduardo Campos, voltado ao adensamento da candidatura dele para disputar com Aécio o segundo lugar na corrida presidencial. Adensamento dependente, de um lado, da transferência para o governador pernambucano do eleitorado de Marina nos grandes centros urbanos, sobretudo do Sudeste, e, de outro, do embate que ele mesmo travará com o lulismo no Nordeste, que tem sido reserva eleitoral decisiva para o PT.
O sucesso no uso dos dois ingredientes desse plano, ou estratégia – o confronto de Marina com Dilma e o embate eleitoral de Campos com Lula – será, ou não, suficiente para assegurar a passagem dele para além do 1º turno, tendo pela frente a ampla máquina eleitoral do PSDB e a capacidade de agregação política de Aécio -, mas poderá, com menor dificuldade, empurrar a disputa para o 2º turno. E num contexto de provável aliança entre a oposição e os dissidentes, seja qual for o finalista classificado. Diferentemente do que aconteceu nos últimos pleitos presidenciais – quando, no turno final, Ciro Gomes e Garotinho aderiram a Lula e Marina Silva adotou postura de neutralidade, favorecendo o petismo.
Jarbas de Holanda é jornalista
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