Isabel de Luca
NOVA YORK — O senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, voltou a dizer nesta terça-feira, em Nova York, que a aliança entre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a senadora Marina Silva "traz vigor à oposição". Apontado por analistas políticos como o mais prejudicado com o acordo, ele acredita que a união de Campos e Marina – dois ex-ministros de Lula – é, sobretudo, um atestado da vulnerabilidade do atual governo.
— Acho que é uma demonstração clara da fragilização desse modelo que está aí, que nos tem levado a um crescimento pífio ao longo dos últimos anos, com a inflação voltando a crescer, com a estagnação dos nossos indicadores sociais. A presença tanto de Eduardo como de Marina no campo oposicionista deve ser saudada por nós como algo que prenuncia o fim desse ciclo de governo do PT – afirmou.
— Acho que a campanha deixará de ter aquele maniqueísmo que sempre atendeu muito aos interesses do PT. Com novos nomes na disputa haverá a possibilidade de falarmos mais de futuro do que de legado.
Quinze dias depois de a presidente Dilma Rousseff fazer uma palestra em Nova York para acalmar investidores estrangeiros, a convite do Golman Sachs, Aécio adotou um discurso bem diferente, em seminário organizado pelo banco BTG Pactual no hotel Waldorf Astoria. Em tom de campanha diante de uma plateia de cerca de 600 investidores – metade composta de brasileiros –, ele retratou os desafios que o Brasil enfrenta hoje para, em suas palavras, “voltar a ser uma nação confiável, sobretudo para o investimento privado”.
— Os pilares fundamentais da macroeconomia construídos no governo do PSDB foram colocados em risco por uma má-condução da política econômica ao longo desses últimos anos, em que se privilegiou um crescimento apenas pelo consumo, a partir da oferta ampla de crédito, não percebendo que isso teria um limite. Ao mesmo tempo, o Estado agiu de forma extremamente intervencionista em setores como os de energia e petróleo, o que afugenta os investidores. É um alerta que faço, mas uma palavra de confiança na nossa capacidade (do PSDB) de encerrarmos esse ciclo de governo do PT — disse ele antes do discurso, do qual a imprensa não pôde participar.
— Temos instituições sólidas e elas é que nos permitirão a retomada de um ciclo, espero eu, duradouro de crescimento e de credibilidade, porque o ambiente em que sou recebido aqui é de pouco crédito em relação ao Brasil e ao que faz o atual governo.
Segundo Aécio — que já estava em Nova York no fim de semana, enquanto Marina decidia seu futuro —, vencerá a eleição “quem tiver as melhores propostas, mais consistência para garantir a retomada do crescimento, o resgate de valores éticos que o PT colocou a perder ao longo dos últimos anos”:
— O campo está aberto, é uma campanha absolutamente aberta, e o fato consistente que se percebe em todas as avaliações é que mais de 60% da população não querem votar na atual presidente. Existe aí, na minha modesta avaliação, um campo muito fértil para a construção de um projeto alternativo de oposição.
A estratégia do PSDB, ainda de acordo com Aécio, é fortalecer o partido pelo país antes de formar qualquer aliança partidária.
— A partir das alianças partidárias, vamos pensar em chapa, que é algo para ser resolvido só a partir de abril do ano que vem. Até porque a própria candidatura do PSDB terá de ser resolvida no ano que vem — comentou. —É hora de trabalharmos, gastarmos sola de sapato por todo o Brasil. Falarmos também em fóruns internacionais como este, porque os investidores que hoje se afastam do Brasil como reflexo da pouca confiabilidade no atual governo. Eu tenho que dizer que o maior partido de oposição tem uma agenda nova para o Brasil e uma agenda que compreende o setor privado como parceiro e não como inimigo.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário