A candidatura capitalista
No momento em que ogovemo comemora, muito justamente, o êxito dos leilões dos aeroportos, com ágios de até o triplo do estimado - e até por isso ganha nitidez o custo pago pelo seu principal opositor, o PSDB, por renunciar gradativamente à sua principal virtude política - de ter iniciado com as privatizações e o programa de estabilização da era FHC, a modernização do país.
Processo interrompido com a eleição do PT, que se limitou a manter nos dois primeiros mandatos do ex-presidente Lula os fundamentos dessa estabilidade e a ampliar o alcance do Bolsa-Família, de concepção e implantação também anteriores. Soube capitalizar, porém, os dois feitos como patrimônio do partido, com discurso socialista que situou o PSDB ideologicamente à direita, negando-lhe o papel inseminador nesse ciclo virtuoso.
Para isso contou com a ajuda inestimável do próprio rival, que somente agora faz a revisão crítica por se deixar constranger, durante uma década, pelo rótulo conservador que lhe foi imposto e que o fez perder, no plano eleitoral, a autoria e a capitalização do ciclo virtuoso iniciado com o Plano Real, que derrotou Lula duas vezes no primeiro turno.
Os protestos de junho, que reclamaram o chamado padrão Fifa de qualidade, denunciaram a exaustão do modelo de consumo, transformado de receita tópica embase da política econômica, e flagraram o governo do PT inadimplente com as ofertas básicas devidas ao contribuinte. Uma cobrança clara por eficiência, aviso ostensivo de que não se poderia mais, dali em diante, governar com discursos.
Não se registrara, até então, oportunidade mais propícia à retomada, pela oposição, da qual o PSDB é a expressão partidária mais representativa, do discurso capitalista, do Estado indutor, mas não intervencionista, do estímulo à iniciativa privada como motor do desenvolvimento, do governo de resultados.
Foi essa a linha da campanha do candidato tucano, Mário Covas, em 89, mas somente aplicada quase uma década e um impeachment presidencial depois, por Fernando Henrique Cardoso e saudado pelo ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, como "o mais puro choque de capitalismo, feito como nenhum de seus proponentes anteriores poderia imaginar".
Mas, na medida em que o governo Dil-ma, embora a contragosto, começa a se render à evidência da privatização como propulsora do desenvolvimento, o PSDB exibe uma convicção desbotada em relação ao tema. Ainda se constrange diante dele, o que o faz perder nova oportunidade de ter o candidato capitalista que falta ao cenário eleitoral e político.
E, pior, assistindo ao adversário roubar-lhe a identidade mais uma vez.
Pressão
Apesar da posição contrária do governo, os prefeitos de São Paulo, Fernando Haddad, e do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, mantêm a pressão pela votação do projeto que muda o indexador de dívidas com a União.
Terremoto
Deputados da base dizem que, se a presidente Dilma vetar o orçamento impositivo na Lei de Diretrizes Orçamentárias, pode esperar "terremoto".
Pauta bomba
O governo não tem garantias de que se livrou da pauta-bomba, que cria despesas sem receitas, apesar do pedido da presidente Dilma à base aliada na Câmara, começar pelo aumento do piso dos agentes de saúde.
NO PORTAL
Blog. A estratégia do PT só preserva os mandatos dos seus condenados
Fonte: O Estado de S. Paulo
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