Jumariana Oliveira
Com quatro mandatos no Senado Federal, o senador Pedro Simon (PMDB-RS), além de ser um nome emblemático na política brasileira, é sempre destacado pela idoneidade na atividade pública. Apesar de integrar uma legenda da base aliada, o peemedebista tem um perfil de oposição em relação à administração do PT. Sobre o caso do mensalão, envolvendo nomes da alta cúpula do partido, ele acredita que as condenações representam um marco na política brasileira. Porém, não acredita em reflexos negativos na candidata do PT, a presidente Dilma Rousseff, em virtude das propagandas institucionais do governo.
JORNAL DO COMMERCIO - Como o senhor viu a determinação do Supremo Tribunal Federal de prender os condenados no caso do mensalão?
PEDRO SIMON - Altamente positiva. O Supremo Tribunal Federal deu uma decisão e fez a condenação. O Brasil é o País da impunidade. Só ladrão de galinha ia para a cadeia e o Supremo condenou e denunciou a existência do mensalão e fez a condenação. Eu espero que modifique o Brasil inteiro, porque a coisa mais difícil é gente rica ir para a cadeia. A cadeia sempre foi lugar de negro e de gente pobre. Mas o sistema brasileiro é ridículo. O cidadão é condenado no município, recorre para o tribunal, depois recorre de novo. Quando chega no final, o tempo já passou e o crime já prescreveu.
JC - Mas o senhor acreditava que esse seria o desfecho dos condenados no caso do mensalão?
SIMON - A maioria acreditava que não ia dar em nada. Teve tudo para não dar em nada. A pressão de gente ligada ao governo, o governo fez o possível para evitar. É a primeira vez que Supremo Tribunal Federal manda gente importante e deputado para a cadeia, que conseguiu chegar ao fim.
JC - Mas muitos casos ainda estão sem desfecho. Esse foi um pontapé inicial para a mudança na forma de se fazer justiça no Brasil?
SIMON - Creio que sim, principalmente pela Lei da Ficha Limpa, a pessoa é condenada pelo juiz, pelo tribunal e vai para a cadeia e responde preso. Ele perde o mandato. Isso vai mudar muito a política e já mudou. (Paulo) Maluf (deputado federal do PP por São Paulo) foi condenado e está inelegível.
JC - A maioria dos petistas diz que o julgamento do STF no caso do mensalão foi político. O que acha dessa versão?
SIMON - É uma piada. No Supremo Tribunal Federal, dos 11 ministros que julgaram, nove foram indicados pelos governos Lula ou Dilma Rousseff. Eles (os magistrados) tiveram uma atitude bonita, temos o início da verdade. Os que julgaram não eram inimigos (do PT), ao contrário, pode-se dizer que tinham dependência.
JC - Como o senhor vê a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesse escândalo do mensalão?
SIMON - Eu não creio que ele (o ex-presidente Lula) tenha tido participação ativa, mas dizer que ele não sabia é muito difícil (de acreditar), seria irresponsabilidade dele. Preferiram focar no José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil no primeiro governo Lula) porque seria uma crise muito grande, que poderia gerar um impeachment do presidente. Ninguém fez muita insistência (em chegar em Lula), não tem prova de participação ativa dele. Se provou que era (culpa) do José Dirceu. Mas dizer que o presidente não sabe é muito difícil.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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