Ex-presidente também critica desgaste provocado por Haddad em SP
Fernanda Krakovics
O ex-presidente Lula anda desgostoso com o que considera exemplos de falta de traquejo político de dois “postes” criados por ele: a presidente Dilma Rousseff e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Mesmo com a recente disposição de Dilma de agradar um pouco mais os políticos, Lula tem reclamado da preferência da presidente por quadros técnicos em seu Ministério.
E atribui à falta de atenção com a política o “pessimismo” existente em relação à economia e à Copa do Mundo. Pressionada por Lula, Dilma já recuou da ideia de fechar o mandato com secretários-executivos no comando de vários ministérios e, em viagem ao Peru na semana passada, declarou que, na reforma ministerial que fará na virada do ano, não promoverá técnicos, como planejava. Ela aproveitará a saída de dez ministros que vão disputar as eleições para tentar amarrar o apoio de partidos aliados à sua reeleição.
Quando o PSB deixou o governo, em setembro, a expectativa do PMDB era emplacar de imediato o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) no Ministério da Integração Nacional. Dilma frustrou o partido, e Lula, ao nomear interinamente para o comando da pasta o secretário de Infraestrutura Hídrica, Francisco Teixeira. O PMDB evidenciou a insatisfação e Lula entendeu o recado.
Vital deve ser nomeado na virada do ano. — A expectativa é que o Ministério da Integração fique com o PMDB. Se não for, vai ser uma guerra. Ela (Dilma) vai empurrar 21 senadores contra (o governo) — disse um importante líder do partido semana passada. Preocupado com os rumos do governo, Lula disse a interlocutores, nas últimas duas semanas, que os servidores de carreira e as nomeações de perfil técnico são para acompanhar as decisões do dia a dia, mas que o Ministério e o governo têm que ter viés político.
Para Lula, o governo precisa fazer política: — Esse pessimismo é porque não tem política — comentou Lula, referindo-se à economia. A aprovação pelo Congresso, na semana passada, de regra que desobriga a União de cobrir o esforço não realizado por estados e municípios para o superávit primário (economia para o paga- mento de juros) foi vista por especialistas como mais um sinal negativo para o equilíbrio das contas públicas. Também há preocupação com a inflação.
Além da apreensão com a economia, Lula também tem se mostrado preocupado com a Copa do Mundo. E a culpa, de novo, acredita, é da falta de traquejo político do governo. — Estamos perdendo o debate da Copa porque falta política, falta alguém para debater — disse, referindo-se às críticas quanto aos gastos para o evento.
Outra preocupação de Lula tem sido a relação de Dilma com os empresários e o mercado financeiro. Eles reclamam de falta de diálogo e de medidas que consideram intervencionistas. O ex-presidente tem feito reuniões com o setor para tentar reverter esse mal-estar. Recentemente, um petista contou a Lula o que ouviu de um banqueiro: — A Duma quer dizer o quanto eu devo ganhar.
Lula anda muito irritado, de acordo com pessoas que conversaram com ele nos últimos dias, com o prefeito de São Paulo. Em pelo menos uma dessas conversas, Lula fez um paralelo entre o estilo de Dilma e o de Haddad: — O Haddad quer fazer uma administração técnica e cria confusão, respinga no próprio partido, está criando dificuldade com o Kassab.
O ex-presidente se referia ao escândalo dos fiscais da prefeitura de São Paulo, que começou atingindo a administração do ex-prefeito Gilberto Kassab, presidente do PSD, e, depois, acabou respingando em auxiliares do próprio Haddad.
Lula e o presidente do PT, Rui Falcão, entraram em campo para assegurar que a investigação feita pela administração Haddad não comprometesse o apoio do PSD à reeleição de Dilma. Esse apoio foi formalizado na ultima quarta-feira, apesar do bate-boca público entre Haddad e Kassab.
Além de tentar convencer Dilma a dar mais atenção à política, Lula tem entrado pessoalmente nas negociações para a formação dos palanques nos estados para as eleições do ano que vem. Ele tem conversado com o PT e partidos aliados. As conversas se intensificaram após a consolidação da pré-candidatura do presidente do PSB, governador Eduardo Campos (PE), ao Planalto.
Fonte: O Globo
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