Até aqui, todas as fricções entre o PSB, do governador Eduardo Campos, e a Rede, de Marina Silva, foram contornadas, quase sempre por concessões dele, para evitar abalos precoces na aliança. Todas elas refletiram diferenças de fundo programáticas, diria Marina, entre os dois grupamentos políticos. Agora, no mais tardar no início do próximo ano, começarão movimentos eleitorais estratégicos para a candidatura dele, que testarão a capacidade dela de fazer concessões em nome do projeto comum. O mais sensível destes movimentos está em curso nos bastidores: a composição entre o PSB e o PSDB em São Paulo, que levaria à indicação do deputado socialista Márcio França para vice do governador Geraldo Alckmin.
As negociações, que remontam ao primeiro semestre, foram congeladas por ordem de Campos logo depois do acordo com Marina, para reduzir as tensões na fase de ajustamento, e também à espera de que seja resolvido o conflito latente no PSDB, representado pela pretensão do ex-governador José Serra de ainda vir a ser o candidato a presidente no lugar do senador Aécio Neves. Mas, diante do assédio de outros candidatos ao PSB, como Paulo Skaf, do PMDB, e Gilberto Kassab, do PSD, oferecendo da mesma forma a vaga de vice a um nome do partido numa coligação que, no mínimo, agregará tempo de televisão, tucanos e socialistas retomaram as conversações. A preferência do grupo paulista do PSB pela composição com Alckmin, de cujo governo participa, está mais do que consolidada. Mas como irá Marina reagir a uma coligação com o PSDB? Ou irá Eduardo Campos forçar a mão com os paulistas para agradá-la, sacrificando a melhor solução eleitoral para sua candidatura? Por ora, Marina insiste na importância de o PSB ter candidatos próprios no maior número de estados, e especialmente no chamado “triângulo das bermudas”, composto por São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nestes três estados vivem 47% dos eleitores. Segue defendendo a candidatura do deputado Walter Feldman, que, como ela, é da Rede, mas filiou-se ao PSB para poder disputar um cargo eletivo em 2014.
Este conflito anunciado em São Paulo tende a se reproduzir nos outros estados em que o PSB, não tendo um candidato forte, em outros tempos optaria pela coligação mais pragmática. Ele reflete uma diferença que, cedo ou tarde, ficará clara e não poderá ser contemporizada. Embora Campos tenha adotado o discurso de Marina contra a “velha política”, toda sua trajetória foi construída sobre o modelo convencional, praticando o jogo das alianças, da cooptação, da premiação dos aliados e, não menos importante, da punição dos adversários.
Alckmin, de sua parte, tem alguma pressa na definição, pois teme que, não conseguindo desbancar Aécio, Serra volte os olhos para o Palácio dos Bandeirantes, de onde saiu ao fim do primeiro mandato para disputar a Presidência em 2010. Acredita o atual governador que, com chapa e palanque negociados, estará mais seguro para buscar a própria reeleição. Este é um capítulo que não vamos demorar para assistir.
Problemas domésticos
Eduardo Campos levou na viagem para a Europa informações frustrantes sobre o ambiente político em seu próprio estado. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Maurício de Nassau, já divulgada localmente na semana passada, ele ganha de Dilma na disputa presidencial, no estado, mas não por uma diferença tão acachapante como imaginado. Ele teria 33% de preferência, ela 30% e Aécio 2%. Se o candidato do PT fosse Lula, tudo mudaria. Ele teria 44%, Campos 25% e Aécio 2%.
Mais preocupante talvez seja sua própria sucessão. Assim como Aécio não pode perder o comando de Minas, Campos não pode perder Pernambuco. Segundo a pesquisa, em todos os cenários quem lidera é o senador do PTB Armando Monteiro Filho. Ele teria 28%, contra 14% do petista João Paulo e 11% do provável candidato do governador, o ex-ministro Fernando Bezerra Coelho. O desempenho de Monteiro melhora na simulação em que o PT não tem candidato próprio. Os outros nome do PSB, João Lyra Neto e Tadeu Alencar, tiveram pontuação baixíssima, favorecendo a escolha do ex-ministro de Dilma.
Um detalhe que realça dos resultados colhidos: 40% sabem que Campos não é mais aliado de Lula/Dilma. Para 74%, foi o governador que rompeu com os antigos aliados. Para 10%, foram Lula e Dilma que tomaram a iniciativa do rompimento.
Quem toparia?
Em entrevista ao jornal O Globo, retomando a defesa da reforma política e reconhecendo as dificuldades para aprová-la, o ministro Roberto Barroso saiu-se com uma proposta: que todos os candidatos a presidente, nas próximas eleições, registrem em cartório a proposta de reforma política que, se eleitos, tentariam aprovar. Ainda que o presidente da República não tenha controle sobre tal matéria, tal compromisso criaria constrangimentos futuros para os congressistas, que hoje se negam a mudar o sistema, apesar do grito das ruas contra suas falhas e o deficit de representação. Com a palavra, os candidatos.
O que é isso?
Sob a presidência de uma mulher, que valoriza os direitos femininos, são inaceitáveis os dados sobre o aumento de estupros no Brasil, de 18,17% em 2012, em relação a 2011, superando o número de homicídios dolosos. Foram 50.617 casos no ano passado, contra 47.136 no ano anterior. E olhe que o STF já decidiu que estupro é crime hediondo.
Fonte: Correio Braziliense
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