Comissão de Ética da Presidência pede esclarecimentos ao ministro sobre conduta na investigação de cartel em São Paulo. Oposição acusa petista de fazer uso político da situação
Daniela Garcia
A Comissão de Ética da Presidência da República convocou ontem o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a prestar esclarecimentos sobre a investigação de cartel em licitações do transporte público em São Paulo e no Distrito Federal. O procedimento foi adotado diante das acusações de líderes do PSDB de que o petista está fazendo uso político do chamado caso Siemens — em que empresas estrangeiras teriam o aval de governos estaduais para combinar quem perderia concorrências públicas, e assim forçariam o superfaturamento dos preços.
O ministro tem prazo de 10 dias para apresentar justificativas ao colegiado. Depois de analisar as considerações de Cardozo, a Comissão de Ética pode abrir um processo de investigação. A comissão analisará o requerimento tucano que pede a exoneração de Cardozo do cargo. Segundo o presidente do colegiado, Américo Lacombe, qualquer decisão só será tomada no ano que vem, na próxima reunião da comissão, prevista para 29 de janeiro.
A queixa do PSDB se deve ao fato de o ministro ter recebido em mão do deputado estadual licenciado Simão Pedro (PT), atual secretário de serviços da prefeitura de São Paulo, documentos supostamente escritos pelo ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer. As denúncias acusavam políticos tucanos de participarem do esquema de cartel no metrô de São Paulo. De acordo com Cardozo, ele teria “cumprido o seu dever” e repassado o material para a Polícia Federal (PF). A informação de que Cardozo encaminhou o relatório contradiz memorando da PF, que afirma que as denúncias chegaram via Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Líderes do PSDB acusam Cardozo de direcionar a investigação com o objetivo de ofuscar as condenações de petistas no mensalão e ocultar o fato de o governo federal manter contratos com a Siemens, inclusive em obras do Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC). Até o fechamento desta edição, em viagem ontem a Santa Catarina, o ministro não havia se pronunciado sobre a cobrança do Conselho de Ética.
Ideli
Américo Lacombe afirmou que também será decidido, no encontro do próximo ano, se será aberta investigação sobre o uso do único helicóptero da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Santa Catarina, conveniado com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), pela ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. O procedimento foi aberto depois de o Correio denunciar em uma série de reportagens que a ministra, pré-candidata ao Senado, turbinou aparições públicas em sua base eleitoral justamente a bordo da aeronave, destinada prioritariamente à remoção de feridos graves resgatados em acidentes.
As justificativas da ministra estão sob análise do relator do caso, o ministro aposentado do Tribunal Superior do Trabalho Horácio Raymundo de Senna Pires. De acordo com Horácio, ele apresentará seu voto na próxima reunião. Caberá a ele decidir se requisitará as informações do Ministério Público Federal de Santa Catarina (MPF-SC), que já investiga a utilização do helicóptero por Ideli. A apuração do órgão aponta que ocorreram 52 acidentes com 73 feridos e dois mortos nas estradas do estado em pelo menos três dias em que a ministra fez uso da aeronave.
Entenda o caso
Licitações combinadas
O caso Siemens é uma das frentes de investigação da série de denúncias de cartel no setor metroferroviário de São Paulo e do Distrito Federal, investigado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão do Ministério da Justiça. Há também apurações na Polícia Federal e no Ministério Público Federal.
De acordo com documentos revelados pelo jornal Folha de S.Paulo, a empresa alemã Siemens, que faria parte do esquema, entregou ao Cade documentos em que afirma que o governo de São Paulo sabia e deu aval à formação de um cartel que envolveria 18 empresas. As multinacionais combinavam entre si quem ganharia concorrências públicas em mais de 30 países, para forçar o superfaturamento.
Além da Siemens, seriam participantes do esquema a francesa Alstom, a canadense Bombardier, a espanhola CAF e a japonesa Mitsui. As fraudes teriam ocorrido em licitações públicas para venda e manutenção de metrôs e trens durante os governos de Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, em São Paulo, nos anos 1990 e 2000.
Convocação de Gilberto Carvalho
A oposição quer convocar o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e convidar o delegado Romeu Tuma Júnior, ex-secretário nacional de Justiça, para prestar depoimento no Congresso sobre o livro-bomba em que Tuma Jr. acusa o PT e o ministro de fabricarem dossiês contra oposicionistas. O DEM apresentou ontem pedidos de convocação de Carvalho na Câmara. Já o PSDB pedirá que Tuma Jr. seja convidado a explicar as denúncias reveladas no seu livro Assassinato de Reputações, em que diz ter recebido ordens para produzir e esquentar dossiês contra adversários do governo do PT no período em que foi chefe da Secretaria Nacional de Justiça, entre 2007 e 2010.
Fonte: Correio Braziliense
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