O surpreendente, por inesperado e não pela lógica, anúncio da escolha do caça sueco Gripen como novo padrão da frota da FAB é um típico caso em que a leitura do episódio enseja a visão de um copo ora meio cheio, ora meio vazio.
Primeiro, às boas notícias. O Brasil escolheu a proposta economicamente mais racional, e que desde 2009 havia convencido a FAB no quesito transferência tecnológica.
Em 2010, um arrogante ministro da Defesa francês havia dito que comparar o grande bimotor Rafale com o pequeno monomotor Gripen seria o mesmo que colocar lado a lado uma Ferrari e um Volvo.
A FAB considerou que o Gripen executa a mesma missão que o Rafale ou que o F-18 por preços menores. Logo, se o Volvo te leva para casa e custa um terço para operar do que a Ferrari, a resposta está dada.
A aparente fraqueza do Gripen, de ter sua versão NG como um protótipo, é sua virtude. O Brasil poderá aprender a fazer o avião. Há mil coisas que podem dar errado no processo, inclusive ingerências políticas ou desvios, mas a tese é correta.
Por fim, ao escolher um avião cheio de peças americanas e não francesas, o Planalto acena com sabedoria diplomática e ao mesmo tempo pode dizer que não cedeu aos malvados espiões de Washington.
Do lado negativo, a coragem de Dilma Rousseff em bancar tal gasto acaba revelando a tibieza com que o assunto foi tratado desde 2001.
Com isso, o Brasil perdeu anos. Pior, deixa passar selado o cavalo da próxima era da aviação de combate tripulada, que já está nos ares nos Estados Unidos e nas pistas de teste da Rússia.
O país entrará 2016 no estágio atual da chamada quarta geração de caças, quando poderia estar de olho na quinta. A indecisão e as pressões políticas e econômicas geraram o atraso, de resto condizente com o ritmo quelônio de desenvolvimento tecnológico das nossas Forças Armadas.
Fonte: Folha de S. Paulo
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