Vão além da barganha por cargos no primeiro e no segundo escalão da máquina federal, nesta fase de reforma – a rigor, rearranjo eleitoral – do Ministério, as tensões entre os dois partidos quanto à latitude e os dividendos da continuidade da aliança (formalizada na metade do primeiro mandato de Lula, após o escândalo do mensalão). Tensões, que desta vez, ademais das ligadas a conflitos basicamente estaduais entre os dois (como o persistente no Rio Grande do Sul, e novos, no Sudeste e no Nordeste), ademais disso refletem perspectivas e objetivos bem contrapostos a respeito do papel a ser desempenhado nos próximos anos no Congresso por um e pelo outro, isoladamente e através de composições. Contraposição que cresceu com a atitude tomada pelo presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves, ao decidir pela abertura de processo, com voto aberto, para cassação dos mandatos de parlamentares condenados pelo STF. Sob o comando do petista Marco Maia, antecessor de Alves, ao invés de tal atitude, o Legislativo seria arrastado a uma guerra com o Judiciário, de sérias implicações institucionais.
Quanto ao toma lá, dá cá, do rearranjo do Ministério, as duas bancadas federais do PMDB, repetindo atuações em outras fases semelhantes, usam as dificuldades do governo e do PT na montagem da aliança reeleitoral da presidente Dilma para cobrança de mais espaço no governo. Destacando o fato de que a legenda, do total de 39 ministros, tem apenas cinco, e todos eles submetidos à forte influência de secretários-executivos petistas. Cobrança que se choca com a necessidade de atendimento a demandas para as diversas pastas da multiplicidade de par-tidos e correntes da chamada base aliada, importante para viabilizar a meta prioritária de ampla superioridade da candidata oficial no horário “gratuito” de rádio e televisão. E que é reforçada pelo agravamento das divergências entre o PT e o PMDB em vários estados (com destaque para a Bahia, o Rio e o Ceará) e pelos riscos de que elas se encaminhem no sentido do deslocamento de importantes diretórios peemedebistas para a campanha do principal alvo do governo, a de Aécio Neves, e para a de Eduardo Campos.
Riscos que também envolvem mais legendas da referida base, como o PP e o PDT, nestes casos inclusive de mudança completa de postura ou da adoção de neutralidade pelas direções nacionais. E cujo trabalho para enfrentá-los e superá-los é dirigido – pessoalmente – pelo ex-presidente Lula. Na recomposição do Ministério e no relacionamento do Executivo com o Congresso. Na neutralização dos descontentes e dos divergentes do PMDB, que inclui o respaldo do Palácio do Planalto e da direção do PT ao grupo Sarney, no Maranhão, e ao de Renan Calheiros, em Alagoas. Na promessa de poder, e até de presença, num segundo governo Dilma (ou num terceiro dele próprio se precisar substituí-la como candidato) de grandes empresários que se contraponham ao principal alvo do PT, a candidatura de Aécio (como o mineiro Josué Gomes da Silva, articulado para ocupar desde agora o ministério da Indústria e do Desenvolvimento). E no pleno comando da campanha de Dilma, com quadros de sua confiança, como Franklin Martins.
Mas tudo isso com dividendos favoráveis que dependerão, sobretudo, do comportamento da macro e da microeconomia ao longo deste ano (começado com projeções correspondentes bem negativas), e dos seus efeitos sociais e políticos. Que poderão, com o horizonte de solução da disputa presidencial num 1º turno, propiciar a consolidação da ampla aliança que Lula está tecendo e barrar a ascensão de alternativa oposicionista. Ou que, com a confirmação daquelas projeções e com a persistência do baixo nível de gestão do governo, porão em xeque a montagem e a operação da ampla aliança reeleitoral (inclusive exacerbando os conflitos entre o PT e o PMDB), e poderão potencializar as campanhas oposicionistas com o respaldo a elas da predominante expectativa de mudança. Existente no conjunto da sociedade.
Jarbas de Holanda, jornalista
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