Os problemas reais com a organização da Copa do Mundo agora entraram de vez no radar de preocupações do governo
Deixando as rusgas para trás, a presidente Dilma Rousseff e o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, encontram hoje, em Zurique, o presidente da Fifa, Joseph Blatter. A ideia de fazer a escala a caminho de Davos para o afago a Blatter foi dela mesma, que sempre o tratou com alguma distância e dureza. Na ultima troca de farpas, ele criticou o atraso nos preparativos da Copa, ela rebateu pelo Twitter (“será a Copa das Copas”) e ele baixou a bola. O fato é que o Mundial de futebol agora entrou para valer no radar de prioridades de Dilma: há problemas reais, para além de qualquer indisposição de Blatter e da Fifa.
Os problemas são de toda ordem, mas vêm sendo reunidos por gente do governo em três grupos: os de infraestrutura, os de segurança e os de imagem do evento, dentro e fora do Brasil. No primeiro grupo, destaca-se o atraso na reforma do estádio de Curitiba, que levou a Fifa a ameaçar a capital paranaense com exclusão do evento. Ontem, depois de inaugurar a Arena das Dunas, em Natal, Dilma protestou contra o “negativismo” e disse “ter certeza” de que a estádio paranaense ficará pronto. Mas a teima será tirada em 18 de fevereiro, quando os técnicos das 32 seleções estarão no Brasil para um seminário. Nesse momento, será reavaliada a possibilidade de o estádio ser concluído até meados de abril, com o outro mais tardio, o Itaquerão. Há também, nesse bloco, problemas com obras de aeroportos, instalações e mobilidade. O governo começa agora a passar um pente-fino em todos eles a partir do início de fevereiro, reeditando, em cada cidade sede, reuniões de planejamento operacional, como as realizadas para a Copa das Confederações. Técnicos de todas as áreas envolvidas, nos três níveis de governo, farão o balanço do que foi feito e do que está pendente.
A questão de segurança entrou forte no radar depois do advento dos rolezinhos. O governo acha que fatalmente ocorrerão protestos e quer evitar erro na dosagem da repressão, como no ano passado, quando a truculência policial acabou fermentando as manifestações. Há, também, o plano para evitar rebeliões nos presídios das capitais sede e, principalmente, um esforço para rastrear o imprevisto, agora que a sociedade brasileira anda tão novidadeira.
Por fim, há o inconformismo do governo com as percepções negativas sobre o evento, que seriam alimentadas por um noticiário seletivamente crítico, focado nos problemas de logística. Tanto o interno quanto o externo. A imprensa europeia, talvez refletindo a Fifa, tem sido muito ácida. Planeja-se no governo um esforço para ampliar o foco do noticiário, nacional e internacional, hoje restrito aos problemas e atrasos, no sentido de que passe a refletir também aspectos que podem singularizar o evento, como a paixão dos brasileiros por futebol e a diversidade cultural e geográfica do país. O ex-presidente Lula é um dos inconformados com o negativismo em torno da Copa, que atribui ao velho “complexo de viralata”. Na entrevista de novembro ao Correio, ele disse: “Eu tenho conversado com os patrocinadores sobre a necessidade de uma outra narrativa para a Copa do Mundo no Brasil”.
O diagnóstico está feito, mas o tempo está voando.
Pois é
A presidente viajou deixando dois novos ministros escolhidos e o meio político pendurado na reforma ministerial. Na escolha do ministro Aloizio Mercadante para a Casa Civil, e de Arthur Chioro para a Saúde, ambos do PT, Dilma efetivamente combinou as exigências técnicas e políticas. Ambos contemplam o PT. Mercadante dará uma nova densidade política à pasta e Chioro, embora não seja ainda um nome nacional, contempla Lula e o prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Luiz Marinho, um apoio importante para Dilma no colégio eleitoral paulista. Resolvida a substituição de Mercadante no Ministério da Educação, com nomeação do secretário executivo Henrique Paim para a pasta que há tempos pilota, uma outra substituição relevante, para os rumos do governo, será a do ministro Fernando Pimentel na pasta de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Josué Alencar, filho do ex-vice-presidente José Alencar, tem os atributos, como empresário bem-sucedido, e trânsito em segmentos do empresariado. Mas, como o PMDB não aceitaria que fosse contado como ministro de sua cota, até porque se filiou muito recentemente, ele ficaria na cota pessoal de Dilma. Agora, entretanto, ele vem sendo “queimado” por núcleos governistas que divulgam a falta de declarações de apoio a ele vindas do capital.
Afora isso, na escolha dos outros ministros, Dilma não estará nem um pouco preocupada com atributos ou qualificativos dos indicados para os cargos. Nem ela nem seus antecessores ou sucessores. O que pautará as escolhas será a busca da maior coligação partidária e do consequente maior tempo de televisão. Depois da eleição de Collor, que foi atípica, no retorno à democracia, nas disputas seguintes (Fernando Henrique, Lula e Dilma), ganhou quem teve o apoio do maior número de partidos apoiado e mais tempo na tevê. Na volta, Dilma tratará então de contentar o PMDB, que não aceita perder pastas nem trocar cebolas de lugar (Turismo por Portos, por exemplo), e amarrar o PP, o PSD e o Pros. Se ela conseguir amarrar bem essas pontas, não garantirá os palanques estaduais, mas reduzirá os problemas já existentes. Antes de viajar, ela mandou dizer ao PMDB que, logo que voltar, terá uma reunião com a cúpula do partido.
Fonte: Correio Braziliense
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