Raquel Ulhôa
BRASÍLIA - Em resposta à presidente Dilma Rousseff e ao presidente do PT, Rui Falcão, que na véspera criticaram a oposição em evento da legenda petista, o senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), pré-candidato à Presidência, afirmou que o PT está "à beira de uma crise de nervos" e mostra "desequilíbrio". Para o mineiro, o discurso do dirigente petista lembra o "tempo dos aloprados". Quanto a Dilma, disse que sua "boa formação mineira" o impedia de responder no mesmo tom.
As declarações de Aécio foram feitas em entrevista, ontem, após reunião da Comissão Executiva Nacional do PSDB, em Brasília, na qual foi aprovada, por unanimidade, resolução que condiciona as coligações partidárias dos tucanos nos Estados à aprovação da cúpula do partido, para que não prejudiquem a campanha presidencial.
"Nós assistimos ali, de forma patética, uma sucessão de neologismos absolutamente desencontrados, que remontam aos mais gloriosos tempos dos aloprados. Na sequência devem vir aí mais alguns dossiês fajutos", afirmou o presidenciável.
E continuou: "Infelizmente, acho que o PT protagonizou não uma festa, um evento partidário, mas, eu diria que inspirado talvez em Almodóvar, nós assistimos ali um partido à beira de uma crise de nervos [refere-se ao filme 'Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos', do cineasta Pedro Almodóvar]. E está muito cedo, para um partido que, nós sabemos, está preocupado com o cenário eleitoral, mostrar tanto desequilíbrio".
O senador disse considerar "lamentável" que o discurso de Rui Falcão não tenha citado a crise de energia, os direitos trabalhistas de médicos cubanos -"que nós defendemos", afirmou Aécio -, o "estado de calamidade" da Petrobras, que perdeu mais de 50% de seu valor de mercado, ou a crise de confiança que se abateu sobre o Brasil.
Aécio terminou a entrevista comentando a declaração de Dilma, que considerou a oposição "cara de pau" - por dizer que o ciclo do PT no governo já acabou - e disse que "o fim do mundo chegou, sim, e há muito tempo, mas para eles". O senador afirmou: "Em relação às ofensas ou ao palavreado da presidente da República, a minha boa formação mineira me impede de respondê-la no mesmo tom".
A resolução aprovada pela Executiva Nacional do PSDB, por unanimidade, determina que o lançamento de candidaturas e a formalização de coligações para as eleições nos Estados "deve garantir a difusão da doutrina e princípios partidários, refletir a imagem da sua unidade nacional e resguardar o interesse partidário tendo em vista a sua candidatura a Presidente da República".
Determina que a composição de chapas para concorrer nas eleições e a formação de coligações serão submetidas à aprovação da Executiva Nacional, que poderá "intervir na escolha de candidatos e na celebração de coligação". Os diretórios estaduais terão de encaminhar à Executiva Nacional a análise do quadro político no Estado e a situação das alianças negociadas até 30 de março.
"Em vários locais, é preciso que haja uma orientação nacional. Na verdade, poderia se fazer amanhã uma intervenção se houvesse alguma decisão contrária ao interesse nacional do partido. É uma medida preventiva. É um sinal claro de que o PSDB tem uma prioridade hoje, que supera todas as outras: eleger o próximo presidente", afirmou Aécio. "O que não podemos é, em determinado Estado, atender à viabilização de uma coligação que eleja um deputado, mas cause prejuízo à campanha nacional "
A cúpula do PSDB decidiu tratar a denúncia da Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal contra o deputado e ex-governador mineiro Eduardo Azeredo (PSDB) por suposto envolvimento no caso conhecido como "mensalão mineiro" como uma "questão local e pessoal".
Com essa estratégia, os tucanos esperam reduzir o impacto de uma eventual condenação de Azeredo na candidatura de Aécio. Para reduzir a contaminação, o assunto nem foi tratado na reunião da Comissão Executiva Nacional do partido, realizada em Brasília nesta terça-feira. A decisão de deixar o "mensalão mineiro" restrito a Azeredo foi tomada antes da reunião.
"A questão de Azeredo não foi debatida [na reunião], porque não é uma questão da Executiva Nacional do partido. Vamos aguardar o julgamento. Essa não é uma questão que envolveu o partido. Vamos aguardar o julgamento, respeitar a decisão do Supremo e ver o que fazer", afirmou Aécio, após a reunião da executiva nacional.
Fonte: Valor Econômico
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