Oposição contará com dois importantes líderes estaduais
Apesar das muitas dúvidas que gerou na época, a escolha do presidente Lula pela candidatura de Dilma Rousseff em 2010 foi um sucesso. No primeiro turno, Dilma obteve 47%, praticamente repetindo o percentual que Lula obteve quatro anos antes (48,6%). E o mais surpreendente é que a distribuição da sua votação pelo território nacional também foi semelhante à de Lula em 2006.
Os pleitos de 2006 e 2010 caracterizam-se ainda por uma divisão estadual mais acentuada do que a das disputas anteriores. Em 1989, 1994, 1998 e 2002 o eleito perdeu em no máximo três unidades da Federação. Em 1989, Collor de Mello foi derrotado nos dois turnos no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal. Fernando Henrique perdeu apenas em duas Unidades da Federação em 1994 (Rio Grande do Sul e Distrito Federal), e em três em 1998 (Ceará, Rio de Janeiro - por apenas 2 mil votos - e novamente no Rio Grande do Sul). Em 2002, Lula perdeu em três Estados no primeiro turno: Ceará, Rio de Janeiro e Alagoas, e apenas neste último no segundo turno.
Nas últimas duas eleições a oposição venceu em número muito maior de Estados. Em 2006, Alckmin venceu em 11 Estados no primeiro turno e em oito no segundo. Nas eleições seguintes, Serra conseguiu derrotar Dilma em oito Estados no primeiro turno e em 11 no segundo. É importante lembrar que Dilma abriu 12 pontos em relação à Serra no segundo turno. Por que a vitória em um número tão grande de Estados por parte da oposição não se traduziu em uma eleição mais disputada?
A vitória de Lula em 2006 e Dilma em 2010 deve-se à enorme vantagem que eles conseguiram na Região Nordeste - particularmente Bahia, Ceará e Pernambuco -, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Ainda que a oposição tenha conseguido vencer nos Estados da Região Sul e em São Paulo, elas o fizeram por margens muito menores de voto.
Vejamos, por exemplo, o resultado do primeiro turno das eleições de 2010. Com 101 milhões de votos válidos, cada 1 milhão de votos equivale a um ponto percentual. Por ordem de diferença (em milhões) eis o volume de votos que Dilma obteve a mais do que Serra: Bahia (2,8); Ceará (2,1); Pernambuco (2,0); Rio de Janeiro (1,8); Minas Gerais (1,7); Maranhão (1,7). Somente nestes Estados a candidata petista obteve 12 pontos a mais do que o candidato tucano. Por outro lado, Serra conseguiu apenas 700 mil (0,7) a mais em São Paulo, o principal reduto eleitoral do PSDB.
A questão decisiva é se Dilma conseguirá manter o padrão das votações expressivas no Nordeste em Minas e no Rio de Janeiro, que garantiram a vitória petista em 2006 e 2010. Ao meu ver três novidades desta eleição podem (mas não necessariamente o farão) quebrar este padrão.
A primeira novidade é o lançamento de um candidato com domicílio eleitoral em Minas Gerais. Curiosamente, em nenhuma das cinco eleições disputadas a partir de 1989, o Estado teve alguma de suas lideranças disputando a Presidência (embora Itamar Franco tenha presidido o país). As pesquisas atuais mostram o candidato tucano à frente de Dilma, e o mais provável é que ele vença em seu Estado, quebrando um ciclo de três vitórias petistas. Mas a dúvida é saber a magnitude desta vantagem. Se for pequena, como a aberta por Serra em São Paulo nas últimas eleições, pode terá um impacto pequeno na disputa nacional.
A segunda é a presença de um candidato com domicílio eleitoral na Região Nordeste. Depois do fenômeno Collor, apenas dois candidatos radicados em um dos Estados da região disputaram um pleito presidencial: Ciro Gomes (1998 e 2002) e Heloísa Helena (2006). O primeiro venceu no Ceará nas duas disputas, mas não conseguiu fazer o seu prestígio "transbordar" para outros Estados nordestinos. Heloísa Helena teve votação mediana (13%) em Alagoas, mas muito reduzida nos outros Estados.
A candidatura de Eduardo Campos sairá de patamar superior aos seus antecessores na região. Governador por dois mandatos de um Estado importante sai do governo com alta avaliação positiva. Por esta razão, existe grande probabilidade que vença em Pernambuco. O mais difícil é estimar até que ponto ele conseguirá crescer em outros Estados nordestinos. Creio que esta é uma condição necessária para ele se tornar um candidato competitivo em âmbito nacional.
A terceira novidade é que pela primeira vez o candidato à Presidência apresentado pelo PSDB não é de São Paulo, o maior reduto eleitoral do partido. O PSDB governa o Estado desde 1994 e somente em uma eleição, a de 2002, seu candidato foi derrotado pelo PT na disputa para presidente. A dúvida é até que ponto os tradicionais eleitores paulistas que votaram nos quatro nomes que concorrem pelo partido para presidente e governador (Covas, Fernando Henrique Alckmin e Serra) estariam dispostos a votar em um candidato mineiro. Dito de outra forma: os eleitores do partido são tucanos, ou tucanos paulistas? Como vimos, sem obter uma boa vantagem em São Paulo dificilmente o partido conseguirá compensar as prováveis derrotas em outros Estados.
Neste artigo, fiz um breve exercício considerando apenas os efeitos dos redutos estaduais, em uma disputa em que oposição contará com dois importantes líderes estaduais. Obviamente, estes estão longe de ser os fatores determinantes para o voto em 2014. Para todos os outros - o Estado da economia no segundo semestre, os efeitos das manifestações, as montagens dos palanques estaduais, a rejeição crescente aos partidos, a votação do PSOL - sequer saberia por onde começar a fazer uma estimativa.
Jairo Nicolau é professor titular do departamento de ciência política da UFRJ
Fonte: Valor Econômico
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