Com novo confronto em Caracas, sobe para 20 número de mortos em protestos; ONU cobra investigação de agressões
Embaixada do Brasil também foi alvo de ato um dia após reunião entre presidente e diplomata brasileiro
SÃO PAULO - Duas pessoas morreram baleadas durante um protesto em Caracas ontem, horas depois de o presidente Nicolás Maduro ter exortado organizações civis governistas a combater as manifestações da oposição.
"Estamos cansados desses grupos fascistas e vândalos", disse Maduro, anteontem à noite. "Fiz um chamado à UBCh (Unidades de Batalha Hugo Chávez), aos Conselhos Comunitários, às comunas e aos coletivos': chama que se acende, chama que se apaga."
Desses, o grupo mais identificado com ações violentas são as milícias pró-chavistas (os "coletivos"), que pregam a defesa armada do governo e controlam algumas das regiões mais pobres de Caracas.
As mortes ocorreram por volta do fim da manhã de ontem, quando um grupo de motociclistas pró-governo tentou romper o bloqueio de uma rua no bairro Los Ruices, de classe média, segundo relato do jornal venezuelano "El Universal".
As vítimas são um membro da Guarda Nacional --a polícia militar venezuelana-- e um motociclista, ambos mortos por disparos. No confronto, que durou mais de duas horas, foram usados coquetéis molotov, armas de fogo, garrafas, 25 blindados e bombas de gás lacrimogêneo, sempre de acordo com o "El Universal".
No final da tarde, houve um novo confronto entre oposicionistas e a Guarda Nacional na praça Altamira, tradicional reduto da classe média alta.
O prefeito de Chacao (município de Caracas onde está a praça Altamira), o oposicionista Ramón Muchacho, exortou os manifestantes a não bloquear vias: "Não acredito que o problema vá ser solucionado trancando ruas e as incendiando".
Com os casos de ontem, subiu para 20 o número de mortos de desde o início dos protestos no país, convocados principalmente por estudantes de classe média e líderes opositores que querem forçar a renúncia de Maduro.
Em nota, a ONG de direitos humanos Provea acusou o presidente venezuelano de "incitar a confrontação povo contra povo" e de desrespeitar a Constituição, que determina que a segurança pública seja uma atribuição exclusiva do Poder Executivo.
Autoridades da ONU exigiram que o governo venezuelano investigue os casos de agressão contras manifestantes e jornalistas.
Os confrontos ocorrem em meio a uma grave crise econômica, marcada pela inflação alta (56% no ano passado) e pelo desabastecimento crônico de produtos básicos.
Protesto
A Embaixada do Brasil na Venezuela, localizada em Chacao, também foi alvo de um protesto ontem, desta vez pacífico e com a participação de apenas algumas dezenas de oposicionistas.
O ato foi convocado pela deputada María Corina Machado, uma das líderes que defendem o uso de manifestações para forçar a renúncia de Maduro. Ela entregou uma carta pedindo que o Brasil se pronuncie sobre a crise venezuelana.
A manifestação quase topou com o assessor internacional do Planalto, Marco Aurélio Garcia, que deixara a representação diplomática pouco antes, em direção ao aeroporto.
Anteontem, Garcia se encontrou com Maduro para discutir a crise, mas o teor da conversa não havia sido divulgado até ontem à tarde.
Fonte: Folha de S. Paulo
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