Com o aumento da tensão na relação entre PT e PMDB, confirma-se a tendência: cada semana termina pior do que começou, e começa pior que a anterior. A semana fundamental é sempre a próxima. Há quem trate o caso com ironias, como se fosse uma simples “tensão pré-eleitoral”, mas desta vez há fatos concretos.
A presidente Dilma assumiu a decisão de enfrentar o Congresso, resultado do aconselhamento de sua equipe de marketing de campanha. Ela está convencida de que é bom politicamente enfrentar o fisiologismo do PMDB, retomando o flerte com a classe média.
A agenda da faxina ética, que tão bons resultados deu no início do governo, seria revivida nessa disputa contra a ganância do PMDB. As pesquisas mostram que quando Dilma enfrenta esse fisiologismo, a aprovação é muito grande. Há problemas, no entanto, para recuperar esse grupo de eleitores que ela havia adicionado aos eleitores petistas tradicionais.
Depois de fazer a tal faxina, Dilma teve de voltar atrás em praticamente tudo, e hoje enfrenta os mesmos problemas. No Ministério do Trabalho, por exemplo, um feudo do PDT, desde que assumiu o cargo em março de 2013, o ministro Manoel Dias, que substituiu o presidente do partido Carlos Lupi por problemas de corrupção, enfrenta novas denúncias de corrupção.
Agora, a Comissão de Ética Pública da Presidência decidiu que suas explicações sobre o esquema de propina para aprovar a criação de sindicatos não foram suficientes, e abriu um processo disciplinar contra ele. Para não perder os minutos que o PDT tem na propaganda eleitoral — o PT tem apenas 4 minutos seus —, o governo trata a questão com a maior cautela, em vez de fazer gestos midiáticos como no início do mandato de Dilma.
O enfrentamento do PMDB, que hoje comanda um blocão formado por diversos partidos aliados igualmente insatisfeitos, é uma jogada de alto risco, porque o Congresso pode adotar uma agenda de estourar a conta pública aprovando projetos populistas como a criação de novos municípios ou o aumento de salários de bombeiros e policiais civis, transferindo o ônus para o governo federal.
A presidente Dilma partiu para o enfrentamento com a seguinte lógica: terei o PMDB do Senado para barrar as radicalizações da Câmara, e assim não perco os minutos de televisão do partido. Mas é preciso lembrar que o líder do PMDB é o senador Eunício Oliveira, que quer ser candidato ao governo do Ceará e não consegue o apoio do Planalto, que prefere agradar ao grupo do governador Cid Gomes.
Foi como Lula lidou com o PMDB no primeiro mandato, recusando-se a colocar em seu primeiro ministério o mesmo Eunício de Oliveira, tática que entre outras coisas gerou o mensalão para construir a maioria da Câmara.
O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, é o protagonista desta disputa com o Planalto e está deixando mesmo alguns líderes da cúpula do PMDB assustados com sua desenvoltura, mas a previsão é que ele tenha que encontrar uma maneira de recuar nos próximos dias. Teria ido longe demais, avaliam setores importantes do partido.
A foto da reunião de Dilma com o ex-presidente Lula no Palácio da Alvorada mostra o presidente do PT, Rui Falcão, sentado ao lado da presidente, uma maneira de fortalecê-lo na disputa que está tendo com Cunha. A tese da presidente é que Cunha não partirá para a briga, mas os conhecedores dos bastidores do PMDB acham que se ele não fizer algum lance dramático na semana que vem estará desmoralizado.
Essa classe média que abandonou Dilma a partir das manifestações de junho será sensível a uma disputa da presidente com um deputado quase desconhecido como Eduardo Cunha? No Rio de Janeiro ele é conhecido, e pode ser um bom alvo da presidente na luta contra o fisiologismo, mas vale a pena brigar com ele e correr o risco de perder o PMDB em termos nacionais?
Uma das coisas que podem ser feitas é convocar antecipadamente a convenção nacional do partido para decidir o apoio à reeleição de Dilma. Nada indica que haja quorum hoje para conseguir maioria contra a aliança com o PT, mas estará criado um fato político negativo com a mera discussão do tema.
Hoje, sabe-se que mesmo com a formalização da aliança, o PMDB não seguirá unido na campanha presidencial. PT e PMDB se enfrentarão em pelo menos 11 estados: Acre, Roraima, Piauí, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio, Paraná e Rio Grande do Sul. Ou seja, na maioria do eleitorado brasileiro o PMDB estará apoiando Aécio Neves do PSDB ou Eduardo Campos do PSB. Mesmo que seja por baixo dos panos.
Fonte: O Globo
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