Comida e bebida respondem por mais de metade da alta do custo de vida em abril. Preços aumentam 6,19% em 12 meses, distanciando-se ainda mais da meta de 4,5%
Deco Bancillon – Correio Braziliense
A inflação voltou a acelerar em abril, um sinal de que nem mesmo um ano consecutivo de elevações na taxa básica de juros (Selic) foi suficiente para derrubar a escalada dos preços. O custo de vida acumulado em 12 meses subiu de 5,90%, em março, para 6,19% em abril, distanciando-se ainda mais do centro da meta de inflação perseguida pelo Banco Central, de 4,5%. Há quatro anos consecutivos, essa taxa não é alcançada, e, a julgar pelos números recentes da economia, é pouco provável que a alta dos preços fique abaixo de 6% no ano em que a presidente Dilma Rousseff deverá tentar a reeleição.
Entre março e abril, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado uma prévia da inflação oficial, avançou de 0,73% para 0,78%. A expectativa do mercado financeiro, no entanto, era de uma variação ainda maior, de 0,80%, puxada, principalmente, pelos preços ainda salgados de alimentos in natura.
De fato, o grupo alimentação e bebidas exerceu a maior pressão sobre a inflação em abril, respondendo por 57% da alta do IPCA-15. Foram os casos do leite e do tomate, que registraram altas de 5,70% e de 14,80%, respectivamente. O brasileiro que foi ao supermercado também se surpreendeu com o preço da batata, que ficou, em média, 26,96% mais cara. A escalada não assustou só o consumidor, mas também o governo.
Responsável por controlar a carestia, o Banco Central já havia alertado para os riscos de um possível choque de preços dos alimentos. Mas, em declarações recentes, o presidente da instituição, Alexandre Tombini, deu a entender que mesmo ele foi surpreendido com a elevação do custo de vida, ao mencionar que “a inflação tem se mostrado mais resistente do que se imaginava”.
Piada do tomate
A disparada dos alimentos começou no ano passado, quando problemas climáticos também pressionaram a inflação. “Tivemos um período de alta muito forte dos itens in natura, em 2013, com o tomate ganhando os holofotes e virando piada nas redes sociais”, lembrou o economista Wellington Ramos, da Austin Rating. “Era de se esperar que os preços caíssem, mas o que temos observado é que a pressão tem se sido maior do que em outros anos”, assinalou.
Nos últimos 12 meses até abril, o grupo alimentação e bebidas registrou variação de 7,90%. Foi a maior alta desde dezembro de 2013, quando esse item acumulava elevação anual de 8,48%. “Nós esperamos ver, em breve, alguma perda de fôlego dos alimentos”, disse Ramos. “O mesmo não se pode dizer da inflação como um todo, que ainda deve continuar bastante elevada”, refletiu.
Avaliação semelhante tem o diretor de Pesquisas Econômicas para a América Latina do banco norte-americano Goldman Sachs, Alberto Ramos. “O aumento do preço dos alimentos tem recebido muita atenção dos brasileiros e foi identificado como o principal motor das recentes pressões inflacionárias. No entanto, a inflação no Brasil está bastante generalizada e disseminada por toda a economia”, escreveu o economista, em relatório.
“Surpreendentemente”, emendou Ramos, cinco dos oito grupos não alimentares pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tiveram inflação anual superior a 6,5%, o teto da meta perseguida pelo BC. “Na verdade”, acrescentou, “dos grupos pesquisados, educação e despesas pessoais têm registrado elevações ainda superiores à do item alimentação e bebidas.”
A consequência dessa inflação mais disseminada foi a elevação do chamado índice de difusão — que mede a proporção de produtos que ficaram mais caros no mês. Como observou o economista Elson Teles, do Itaú Unibanco, o indicador subiu para 72,9% em abril, contra 66,8% em março. O governo considera qualquer taxa acima de 60% “preocupante”, segundo uma fonte do alto escalão da equipe econômica.
Seca atrapalha
Os itens produzidos no campo estão mais caros por causa de uma estiagem não esperada para este início de ano, que tem provocado pressão também sobre a conta de luz. Em meio à escassez de chuvas, o sistema elétrico teve de ser socorrido pelas usinas térmicas, que, além de poluentes, são mais caras. O remendo custou caro. Assim como os alimentos, a conta de luz também está mais alta para os consumidores
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