Daniel Galvão - Agência Estado
O cientista político Fernando Abrucio, professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, afirmou nesta quinta-feira, 17, que a queda das intenções de voto, acompanhada da perda da popularidade, deve ser um fator de "preocupação" para a presidente Dilma Rousseff (PT), pré-candidata à reeleição, na campanha eleitoral. "É um processo (de queda das intenções de voto) ainda pequeno, mas matematicamente contínuo, o que acompanha, na boa medida, a relativa perda de popularidade presidencial", afirmou.
Abrucio, que é doutor em ciência política pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), lembrou que o declínio contínuo da avaliação do governo Dilma se aproxima dos dados de junho, quando ela teve queda na popularidade após as manifestações de rua. "Parece bastante preocupante para Dilma, embora não haja um crescimento dos candidatos de oposição", disse.
Pesquisa Ibope divulgada nesta quinta-feira, 17, revela que a parcela dos brasileiros que considera a gestão ótima ou boa oscilou negativamente pela terceira vez no ano, passando de 36% em março para 34% em abril. Em relação à pesquisa eleitoral, num dos cenários, que inclui pré-candidatos dos pequenos partidos, a presidente caiu de 40% em março para 37% em abril. Em outro, sem os considerados "nanicos", Dilma caiu de 43% no levantamento divulgado em março para 39%.
Segundo o cientista político, entretanto, não há nenhum fenômeno de oposição acontecendo no momento. De acordo com Abrucio, embora haja um sentimento de mudança em grande parte da população, os números da pesquisa não expressam esse desejo. Conforme o cientista, somente um tipo de discurso eleitoral pode ser mais incisivo contra Dilma: o que una três tópicos - melhoria do serviço público em geral, combate à inflação e medidas contra a corrupção.
"O eleitorado, sobretudo o mais pobre, em grande medida, quer mudança, mas sem alterar as transformações sociais que ocorreram nos últimos dez anos. Alguém que seja capaz de melhorar o serviço público, controlar a inflação e combater a corrupção, mas sem que isso leve à redução da qualidade de vida", disse. "Qualquer candidato de oposição tem de mostrar que quer fazer mudança nesses três pontos."
Na análise de Abrucio, estrategicamente falando, o pré-candidato a presidente Aécio Neves (PSDB) não deveria apenas se mostrar como o "candidato da mudança", mas como alguém que seja capaz, sobretudo, de mudar sem retroceder nos avanços sociais. O professor e pesquisador da FGV em São Paulo também prevê um foco maior de tensão, depois de junho, entre Aécio e o pré-candidato Eduardo Campos (PSB). "Depois de junho, é possível que o Campos esteja mais próximo do Aécio nas pesquisas e, se Campos for capaz de se construir como o candidato da mudança sem tirar o avanço social, ele pode dar um pulo."
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